Sobrenatural

O Grande Combate

No alto do monte Olimpo, protegidos da curiosidade dos homens por nuvens espessas, os imortais – deuses e deusas – conversam alegres e despreocupados em volta da mesa de um grande banquete. Reinam a harmonia e o contentamento. De repente, uma pedra imensa cai bem no meio da festa, provocando um começo de pânico.

– Quem teve a ousadia? – grita Zeus, o rei dos deuses, no meio da confusão geral que se estabelece.

As divindades mal têm tempo de se recuperar do espanto, e já uma série de blocos de pedra, acompanhada de tochas em chamas, começa a cair sobre o Olimpo.

Os imortais se reúnem assim que podem examinam a situação; que, pelo jeito, é muito preocupante. Sobre todas as montanhas da vizinhança, destacam-se as silhuetas de vinte e quatro titãs, gigantes de longas cabeleiras, com barbas cerradas e pés em forma de serpente. São eles os autores desse bombardeio que devasta o Olimpo. Filhos da Terra, esses horríveis seres resolveram destronar Zeus, expulsar as outras divindades e tomar seus lugares.

ANÚNCIOS

No momento, beneficiam-se do efeito-surpresa e, se não, houver uma reação rápida, talvez atinjam seus objetivos.

Hera, a mulher de Zeus, está com um ar especialmente sombrio. Sabe que nenhum desses titãs pode ser morto por um deus. Só um mortal, vestido com uma pele de leão, poderia deixá-los num estado em que não conseguiriam mais fazer mal a ninguém. A deusa também revela ao marido que a guerra estará perdida se não se colher uma planta misteriosa, escondida num lugar secreto, a qual tem o poder de tornar invencível quem a encontrar.

Preocupado, Zeus chama Atena, a deusa da sabedoria, e conversa longamente com ela. Depois, manda-a em busca de Héracles, o herói da pele de leão, e ordena que o Sol, a Aurora e a Lua apaguem suas luzes. Quando tudo fica escuro, Zeus desce do Olimpo e, tateando, procura e encontra a tal planta mágica. Em seguida, leva-a de volta à morada dos deuses, aonde Héracles acaba de chegar.

ANÚNCIOS

Agora, os deuses estão prontos a enfrentar os inimigos

Fazendo pontaria no chefe dos titãs, Héracles lança uma flecha e atinge o gigante. O monstro cai no chão, mas, para surpresa geral, levanta-se imediatamente, mais vigoroso e alerta do que antes. Atena compreende tudo e grita:

– Depressa, Héracles! Essa criatura recupera as forças quando está em contato com sua terra natal. Carregue-a para bem longe!

Enchendo-se de coragem, o herói salta sobre o gigante, agarra com seus braços fortes e leva-o a um país longínquo, onde o mata com um golpe de maça.

Enquanto isso, a batalha continua, cruel. Todos os deuses lançam-se ao combate. Hefesto, o ferreiro manco, deixa em brasa os ferros e funde metal. Apolo, deus do Sol, lança flechas assustadoras. Posídon, senhor dos mares, empunha seu tridente. Apenas as deusas pacíficas, como Deméter e Héstia, ficam à margem da luta. Assustadas, trêmulas, contemplam o terrível espetáculo. Atena, por sua vez, descobre uma nova arma: erguendo rochas pesadíssimas, lança-as sobre os atacantes.

No entanto, mesmo se as pancadas dos deuses e das deusas conseguissem abater os titãs, não seriam suficientes para eliminá-los, pois, mesmo feridos, esses seres imundos voltam à luta. Por isso, é necessário que Héracles lhes dê um golpe de misericórdia: desfere golpes fortíssimos com sua maça e atira flechas com grande destreza.

Daí a algum tempo, a maioria dos gigantes jaz no chão. Os que ainda se agüentam em pé compreendem que sobram poucos, e a derrota agora lhes parece inevitável. Fogem desesperadamente e se dispersam sobre a Terra, perseguidos pelos. deuses, que querem completar sua vitória.

Um dos titãs, Encélado, que corre mais depressa que os outros, acha que está seguro longe da Grécia, mas Atena o descobre. Agarrando um rochedo gigantesco, ela o lança com violência sobre Encélado. Achatado pelo projétil em pleno mar, desde esse dia o titã passa a ser a ilha da Sicília.

Com um só golpe de tridente, Posídon racha em duas a ilha de Cós e joga uma das partes sobre outro titã, o qual fica esmagado sob uma nova ilha: Nisiro.

Assim, um por um, os titãs são todos derrotados.

Entretanto, não pense que eles morreram. Seus corpos estão debaixo da terra, é verdade. Mas as numerosas erupções vulcânicas provam que continuam vivos, tão perigosos e malvados quanto antes.

Héracles parte para outras aventuras, e os deuses voltam ao Olimpo. Logo está tudo arrumado de novo, e o banquete interrompido pode prosseguir. Em volta do trono de Zeus, deuses e deusas reencontram sua alegria, tomando sua bebida habitual, o néctar, e deliciando-se com seu petisco favorito, a ambrosia. A conversa continua descontraída, como se nada houvesse acontecido. Afinal, são imortais. Têm todo o tempo do mundo.

Sobre o Autor