Pode não ser tão fácil assimilar em alguns momentos mas, na maioria das vezes, tudo aquilo que entendemos como “comum” é, na verdade, apenas fruto da cultura. A cultura é a combinação de tradições e costumes que, ao longo dos anos, se transformou em algo assimilado e legitimado pro toda uma sociedade. Isto é, hoje temos várias coisas como “comuns” mas que na verdade nem sempre foram vistas dessa forma.
Entender o conceito de cultura pode se tornar particularmente delicado quando também se envolve algum fator biológico. Essa é inclusive uma combinação que frequentemente rende debates acalorados. No entanto, até para o mais comum dos fenômenos naturais, tal como a morte, existe também um forte fator cultural.
Por exemplo, hoje é um consenso entre muitas culturas a ideia de que a morte é o momento de “descanso”. Quando recebemos a notícia da morte de alguém, é comum ouvir ou dizer algo como “descanse em paz”. A morte, independente de quais as condições em que se deu, é vista como um ponto final para o sofrimento mundano, o sofrimento terrestre. E essa, curiosamente, acaba sendo uma expressão usada por pessoas das mais variadas crenças religiosas.
E aí que a descoberta feita por arqueólogos se torna interessante. Já há algum tempo, esses pesquisadores vinham mapeando túmulos aparentemente violados por toda a europa. Esses túmulos datam da Idade Média e, segundo análise do solo, compartilhavam algo em comum: todos haviam sido abertos pouco depois do enterro. Por muito tempo, os pesquisadores acreditaram que essas covas pudessem ter sido alvo de saqueadores. No entanto, agora, acreditam que a explicação por trás dessas aberturas pode ser um pouco mais macabra.
Em um novo estudo, publicado na revista Antiquity, pesquisadores da Universidade de Estocolmo na Suécia, da Academia Austríaca de Ciências e da Universidade de Leiden, na Holanda, identificaram centenas de túmulos em dezenas de cemitérios em toda a Europa, da Transilvânia à Inglaterra, que foram reabertos. Uma vez que os túmulos parecem ter sido abertos e interferidos antes de os corpos estarem totalmente decompostos, isso sugere que eles foram abertos logo após serem colocados para descansar.
Os pesquisadores reconhecem que mesmo se tratando de uma região hoje conhecida como Europa, de alguma forma uma unidade geopolítica, isso não era nem de longe o caso na época. Então é provável que houvessem diferenças que variam de região para região, na explicação do porque esses túmulos tenham sido reabertos. Em geral, os pesquisadores foram capazes de identificar que corpos eram manipulados, partes dos corpos podiam ser retirados ou itens outros. Em Baviera, para se ter um exemplo, um túmulo foi reaberto para que o corpo de um cão fosse colocado ao lado do corpo humano – é impossível saber ao certo porque ou qual a relação compartilhada entre eles, se é que havia alguma.
É difícil saber ao certo o porque desses túmulos serem sistematicamente reabertos, mas os pesquisadores acreditam que a prática estava associada a algum valor positivamente aceito pela sociedade naquele período. Hoje pode parecer um completo absurdo a ideia de desenterrar um ente querido morto, mas na época parece que tudo fazia sentido.