Históricas

Existem milhares de restos mortais de escravizados no Oceano Atlântico

Em uma de suas rimas, Emicida canta que “o tempero do mar foi lágrima de preto”. Em seus versos, o cantor fala sobre o tráfico de negros africanos com destino às Américas e à Europa. A escravidão de negros africanos é uma das maiores atrocidades já cometidas pelo homem ao longo da história, mas ainda assim não recebe a devida atenção histórica. Uma das provas disso é que os números não são amplamente divulgados, não são conhecidos de forma geral.

Segundo o Trans-Atlantic Slave Trade Database, para se ter ideia, mais de 12 milhões de negros africanos foram traficados pelo Oceano Atlântico. Foram 400 anos de exploração de povos de diferentes partes da Africa. O Banco de Dados citado foi criado e é mantido até hoje por pesquisadores da Universidade de Emory, nos Estados Unidos. Segundo o levantamento feito pelos cientistas, esse número não representa o número de negros africanos que chegaram a Europa ou as Américas, isso porque muitos morriam na travessia, além dos naufrágios.

Acredita-se que muitos escravizados morriam no navio, vítimas das péssimas condições as quais eram submetidos por dias, durante a viagem. A rota realizada pelos navios negreiros ficou conhecida como “Comércio Triângulo”, justamente porque tinha exatas três conexões: África, Europa e Américas. Além daqueles que eram mortos pelas condições dos navios, muitos também eram assassinados, ao serem arremessados no mar. Segundo descobertas históricas, muitos capitães de navio ordenavam as execuções principalmente daqueles que pareciam doentes.

Por esses motivos, sempre se acreditou que o Oceano Atlântico tenha sido o cemitério de muitos escravizados. No entanto, há alguns anos essa deixou de ser uma suspeita para ser um fato, confirmado. Uma das provas disso foi a descoberta de milhares de restos mortais próximos à Ilha de Santa Helena. Durante a construção de um aeroporto no local, arqueólogos foram  capazes de encontrar cerca de 5 mil restos mortais. A remota ilha fica a cerca de  1.600 quilômetros do sudoeste do continente africano.

Os pesquisadores acreditam que esse grande volume de mortos tenha acontecido principalmente durante a repressão da Marinha britânica ao tráfico de escravizados. A Marinha tentava impedir a chegada dos navios a costa caribenha e, em alguns casos, resultou em naufrágio. No entanto, a ação também libertou cerca de 150 mil negros traficados de África para as Américas.

Atualmente, existe um grande e ambicioso projetos para a mineração no oceano atlântico. Para o professor do curso de Oceanografia Biológica na Nicholas School, Cindy Van Dover, antes de qualquer exploração do Oceano Atlântico, é necessário antes que seja reconhecida a presença de restos mortais no local.

Não estamos sugerindo de forma alguma uma proibição ou restrição à mineração, só queremos ajudar a garantir que as atividades no fundo do mar sejam sensíveis à herança cultural da Passagem do Meio“, afirmou. Phillip Turner, doutor em Ciência Marinha e Conservação da Universidade Duke, também tem uma visão semelhante. “Esperamos que esta pesquisa encoraje a conversa sobre o significado cultural do fundo do Atlântico, e que esses valores culturais sejam considerados com as preocupações ambientais e os interesses econômicos associados à mineração em alto mar”, declarou.

Sobre o Autor

Roberta M.

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