Históricas

Como o fanatismo religioso pode ter agravado a peste negra

Entre os anos de 1347 a 1353, todo o território da Europa foi atingido por um surto da doença causada pela bactéria Yersinia pestis. Você provavelmente conhece esse período como o “surto/epidemia de peste negra/bubônica”. Esse foi um período duro para todos os povos da Europa e estima-se que cerca de 200 milhões de pessoas morreram vítimas da doença. A doença era implacável principalmente porque não tinha remédio, muito menos vacina, e as condições de vida e higiene na Europa, durante aquele período, eram completamente insalubres. Isto significa que as condições sanitárias eram perfeitas para que a doença se espalhasse.

Você provavelmente já deve ter lido sobre essas condições sanitárias e deve saber que, naquele período, a maioria dos povos que habitavam na Europa, não tinham grandes preocupações de higiene. Em geral, não havia preocupação com o descarte de dejetos, restos de comida, transporte de água encanada e absolutamente nenhum outro fator. Com isso, a Yersinia pestis, que era transmitida por roedores, se proliferou com rapidez.  Esse, inclusive, é um dos fatos históricos que acabou levando os europeus a perceberem a importância de certos cuidados sanitários, de higiene.

No entanto, embora este seja um fator muito marcante para o surto de peste negra, ele não é o único. O estudo histórico desse período, alinhado com descobertas da antropologia e de outras áreas, aponta ainda outras causas que podem ter sido importantes. Uma dessas causas, por incrível que pareça, pode ter sido o fanatismo religioso daquele período, que levou a Inquisição, uma das ações mais questionáveis da Igreja Católica em sua história.

Acontece que um ofício daquele período é comumente esquecido pela maioria das pessoas, mas o resultado dele pode ter sido um fator importante para a epidemia que viria a se desenrolar. Em 1233, o Papa Gregório IX emitiu um decreto que acabou conhecido como Vox in Rama. Neste documento, o Papa trazia detalhes de um suposto culto herege que acontecia na Alemanha e, em um trecho, cita o uso de gatos na suposta seita. O documento ainda destaca o uso de gatos pretos – o que, em um resgate histórico, pode ser o começo da crença de que gato preto traz azar.

O resultado deste documento foi uma verdadeira caçada contra os felinos. Naquele momento, os fieis acreditavam estar concretizando a vontade de Deus. A Inquisição é um dos momentos mais questionados da Igreja Católica na História. Através do tribunal eclesiástico, milhares de pessoas foram mortas por suposta prática de heresia – e a história mostra que a maioria dessas vítimas eram mulheres acusadas de bruxaria.

Mas qual o resultado disso? Pense o seguinte, naquele período não existia ração de gato ensacada. O processo de domesticação destes animais se encontrava em um estágio totalmente diferente do que temos hoje. Ou seja, estes animais provavelmente dependiam muito da caça para sobreviver e, como se sabe, são predadores de ratos. Consequentemente, a população de felinos naquela região era importante para o controle dos roedores, que eram os principais transmissores da peste negra. Com drástica redução da população de gatos, o caminho para uma superpopulação de ratos estava aberto.

Sobre o Autor

Roberta M.

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