Históricas

O holocausto brasileiro: milhares de mortos e venda de corpos para Universidades

Quando se fala em “holocausto” é natural que se pense imediatamente em nazismo e judeus. Afinal de contas, o holocausto de judeus na Alemanha de Hitler é o que escreveu a história. “Holocausto brasileiro” foi o nome encontrado pela autora Daniela Arbex para atrair olhares ao caso de Barbacena. Não houve perseguição contra judeus na cidade, mas uma tragédia de proporções quase desconhecidas para a maioria dos brasileiros.

Na cidade de Barbacena, funcionou um manicômio onde milhares de pessoas foram deixadas ao longo de décadas. Não apenas pessoas com transtornos mentais, mas também os “indesejados” da sociedade, segundo Arbex. O local era superlotado e as condições oferecidas aos “internos” era sub-humana, onde muitos eram mantidos inteiramente nus, privados de água e alimentos adequados, além de terem seus cabelos raspados – principalmente os homens.

A referência ao Holocausto se deve as semelhanças que as instalações do local tinham com os campos de concentração nazistas. Arbex detalha em seu livro que existem relatos de que “pacientes” chegavam a ser levados para o manicômio em vagões. O estudo da autora aponta que, entre os anos de 1903 e 1980, cerca de 60 mil pessoas podem ter morrido no local. As condições de vida no local também recebeu atenção.

Segundo documentos históricos, apontados também no livro, a maioria dos “pacientes” era mantida inteiramente nua. Essa regra também se aplicava as mulheres e muitas foram estupradas no local. Crianças também não escapavam e eram forçadas a permanecerem nuas no espaço. Segundo levantamento, as instalações do manicômio haviam sido projetadas para atender até 200 pacientes, no entanto o número era extremamente excedido. Estima-se que houveram momentos em que até 6 mil pessoas estiveram internadas no local ao mesmo tempo. Ainda segundo as estimativas, calcula-se que cerca de 16 pessoas morria diariamente apenas por não suportar as condições de vida oferecidas no local.

Os dormitórios tinham o chão coberto de grama, onde os internos passavam a noite, inteiramente nus. As 5 horas da manhã eram forçados a acordar e levados para a área externa do local, onde deviam permanecer até as 19 horas, quando eram levados de volta para os dormitórios. Além da alimentação ser precária, toda a instalação era precária também em questões de higiene e estrutura, afinal havia sido projetada para atender apenas 200 pessoas.

Os absurdos do local foram muitos e, não a toa, se tornaram assunto de incontáveis artigos acadêmicos e o próprio livro. No entanto, é preciso falar sobre um outro detalhe que acaba sempre sendo associado ao manicômio. Em entrevistas, Arbex falou sobre documentos encontrados na pesquisa que apontam para a venda de corpos para Universidades brasileiras.

Cerca de 1853 corpos teriam sido vendidos para 17 Universidades brasileiras. Os destinos eram sempre as faculdades de medicina, que desembolsavam, em média, 50 cruzeiros. Em uma conversão para os dias atuais, a venda dos corpos teria gerado um lucro em torno de R$600 mil ao Manicômio. Quando a venda deixou de ser lucrativa, a Instituição então teria passado a queimar os corpos no meio do pátio, diante dos internos, ou diluir os corpos com ácidos, na tentativa de um novo comércio: a venda de ossos.

 

Sobre o Autor

Roberta M.

Gosto de escrever sobre diversos assuntos, principalmente curiosidades e tecnologia. Contato: [email protected]