Cotidiano

A OMS pretendia classificar a velhice como doença

Envelhecer é parte da vida humana, uma parte inevitável a menos que se morra antes. Embora pareça ser uma obsessão moderna, a busca pela juventude é muito mais antiga do que percebemos. Desde que o mundo é mundo, o homem tenta reverter (ou, pelo menos, sonha com isso) o processo de envelhecimento. Uma boa evidência disso são os diversos mitos sobre “fonte da juventude”, supostas águas nas quais aquele que se banha passa a viver em juventude eterna.

A fonte da juventude nunca foi encontrada e, na realidade, não existe. No entanto, o avanço tecnológico do mundo moderno permitiu uma série de novidades que prometem essa “juventude” eterna. Incontáveis pílulas de rejuvenescimento da pele, cirurgias plásticas, remédios que prometem milagres para o cérebro… O ser humano esta em constante busca pela juventude e não se importa com os custos disso.

No entanto, recentemente, estivemos muito perto de assistir essa obsessão dar um passo polêmico. A Organização Mundial da Saúde, a OMS, chegou a estudar a possibilidade de adicionar a velhice no quadro de doenças. Talvez você já tenha ouvido falar do “CID”, certo? A sigla significa Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, que é um grande caderno com todas as doenças já catalogadas, organizadas em um sistema internacional. Esse caderno serve para facilitar a linguagem da medicina. Isto é, você pode ir para qualquer país do mundo e informar o seu “CID” e os médicos terão condições de saber com o que estão lidando. O CID é como um idioma global para tratar de doenças.

Entendendo a dimensão que o CID alcança, pense agora o que representaria ter a velhice classificada como doença? Já existe, no CID, a classificação da “senilidade”. Esse termo já é cercado de polêmica, mas entendido como necessário pela maior parte da comunidade médica. A senilidade não se refere ao envelhecimento em si, mas as consequências que esse processo pode gerar ao corpo e a mente do indivíduo.

A OMS estudava a proposta de trocar a “senilidade” por “velhice sem menção de psicose; senescência sem menção de psicose; debilidade senil”. Talvez alguns possam pensar que se trata apenas de maneiras diferentes de dizer a mesma coisa, mas não é isso que centenas de organizações argumentaram. A OMS entrou na mira de críticos e defensores dos direitos dos idosos.

Depois da forte reação da comunidade médica, e também de diversas organizações, a OMS recuou. Ao invés do termo “velhice”, o documento agora vai falar em “declínio da capacidade intrínseca associado ao envelhecimento”. Parece uma mudança pequena, mas ela representa muito na prática.

Todo esse debate acontece porque, em 2022, uma nova edição da lista vai passar a vigorar. Criada ainda em 1900, o Caderno foi atualizado pela última vez em 1992 e, passados 10 anos, é hora de atualiza-lo novamente. Como é natural de toda atualizações, vários detalhes mudaram e isso foi discutido no âmbito global. Neste aspecto, a proposta da OMS para classificar a velhice como doença acabou desagradando a maioria dos governos e organizações médicas, sendo barrada no final das contas.

Sobre o Autor

Roberta M.

Gosto de escrever sobre diversos assuntos, principalmente curiosidades e tecnologia. Contato: [email protected]