Um estudo apontou que a abstinência de nicotina e cafeína causa um sofrimento a pacientes que estão internados em unidades de terapia intensiva (UTI). Este sofrimento, por consequência, pode levar à realização de testes laboratoriais e de imagens diagnósticas desnecessários, como raios-X e ressonância magnética.
De acordo com uma revisão sistemática de estudos clínicos e observacionais envolvendo 483 adultos, os sintomas da abstinência são bastante prejudiciais aos pacientes. As descobertas foram apresentadas no congresso da Euroanestesia 2019, uma reunião anual da Sociedade Europeia de Anestesiologia, que ocorreu em Viena, na Áustria, entre os dias 1 e 3 de junho.
Segundo a pesquisa, “a nicotina e a cafeína são algumas das substâncias mais comumente usadas e altamente viciantes na sociedade moderna, mas são frequentemente negligenciadas como uma fonte potencial de sintomas significativos de abstinência quando abruptamente interrompidas na UTI”. A professora adjunta Maya Belitova, do Hospital Universitário “Tsaritsa Yoanna”, de Sofia, na Bulgária, foi quem liderou a pesquisa.
“Os sintomas de abstinência, incluindo náuseas, vômitos, dores de cabeça e delírio podem durar até 2 semanas. Esses sintomas se assemelham a condições como meningite, encefalite e hemorragia intracraniana, e isso pode confundir o diagnóstico clínico e resultar em testes desnecessários que podem causar danos ao paciente”, disse a pesquisadora. Além disso, a realização destes exames custa muito dinheiro e desperdiça tempo.
Na Europa, até 27% da população fuma e mais da metade toma café. A revisão sistemática, que reúne e organiza as evidências disponíveis na literatura científica, incluiu 12 estudos que investigaram sintomas de abstinência e tratamento em UTIs, entre 2000 e 2018. A avaliação envolveu casos de 483 adultos, com idade entre 18 e 93 anos.
Os resultados mostraram que a abstinência aguda de nicotina aumenta substancialmente a agitação e o número de deslocamentos da linha traqueal e da linha intravenosa em pacientes de UTI.
Já a retirada abrupta da cafeína leva ao desenvolvimento de sonolência, náusea, vômitos, dores de cabeça e pode aumentar as taxas de delírio na UTI. Em alguns casos, o medicamento benzoato de cafeína tem sido usado com sucesso para tratar as dores de cabeça decorrentes da abstinência de cafeína, mas, no ambiente de UTI, esse procedimento ainda tem evidências limitadas de eficácia.
O que o estudo sugere como solução?
A pesquisa indicou que pacientes na UTI até podem se beneficiar da substituição de nicotina e da suplementação de cafeína, mas com pouca evidência sobre a eficácia dos métodos. Ainda será necessário realizar outras pesquisas futuramente para encontrar opções de tratamento para estes casos específicos.