Ciências

Sapos de Chernobyl são exemplo de ‘seleção natural’

Você deve estar minimamente familiarizado a ideia de “seleção natural”, certo? Essa é uma teoria que tenta explicar como a natureza é capaz de se adaptar para sobreviver a situações adversas. Essa é uma teoria muito conhecida e até antiga, que ajuda a entender como os organismos vivos são capazes de se adaptar ao longo dos anos, por mais adversa que seja a realidade, para sobreviver.

Se esse estudo é fascinante dentro do campo teórico, imagine pode conferir de perto a tese! Pois é exatamente isso que um grupo de pesquisadores vem tendo a chance de fazer na Ucrânia, na região afetada pelo desastre nuclear de Chernobyl. O caso aconteceu em 1986, quando a usina nuclear sofreu explosões e liberou partículas tóxicas e radioativas foram espalhadas pelo ar. Uma larga área precisou ser evacuada e hoje se tornou uma espécie de cidade fantasma, onde apenas animais tem trânsito liberado.

Décadas após o acidente, a região segue sendo alvo de pesquisas e estudos. Afinal de contas, é algo totalmente desconhecido os efeitos da radiação ao longo de tantos anos. E é um desses estudos, que foi publicado na Revista Evolutionary Applications, que observou a mutação do sapo Hyla orientalis.  O que os pesquisadores observaram é que esse sapo, que é normalmente verde, sofreu uma mutação e assumiu uma cor preta na região afetada pela radiação.

Num primeiro momento, a mudança pode não parecer grande coisa. No entanto, os pesquisadores descobriram que a mudança na cor do animal foi uma reação do organismo da espécie para sobreviver na região afetada pela radiação. Um dos motivos pelos quais a população humana da região foi totalmente evacuada do local é porque a radiação pode causar mutação em humanos. Além de câncer e mortes, a radiação ionizante pode causar alterações no corpo humano que podem não ser letais mas se perpetuam através do DNA, sendo passado de geração à geração.

Essa é uma alteração genética conhecida como “orientada por radiação” e pode afetar não apenas humanos, como outros seres. No caso dos sapos, o caso não parece ser exatamente o mesmo. Os autores acreditam que a mudança na coloração do animal tenha acontecido como uma maneira de se adaptar as altas taxas de radiação, para que os animais pudessem sobreviver, em uma mudança que provavelmente começou já nos anos seguintes a tragédia.

A coloração escura é conhecida por proteger contra diferentes fontes de radiação, neutralizando os radicais livres e reduzindo os danos ao DNA, e, particularmente, a pigmentação da melanina tem sido proposta como um mecanismo de proteção contra a radiação ionizante”, diz o artigo. Para entender a tese dos pesquisadores, cabe um paralelo à pele humana, que possui diferentes níveis de melanina.

A ciência já conseguiu entender que a melanina interfere nos efeitos da radiação sobre o corpo; quanto maior a concentração de melanina, menores tendem a ser os efeitos da radiação, o que inclui os raios ultravioleta, por exemplo. Também em relação aos seres humanos, existe uma teoria que busca entender como a melanina se apresenta em concentrações diferentes em humanos de diferentes regiões; o que os pesquisadores acreditam que tenha acontecido também com os sapos.

Os pesquisadores apontam que os sapos ficaram com a pele preta para reduzir os efeitos da radiação na região do acidente nuclear. Ou seja, ao invés de uma mutação aleatória, a mudança de cor parece ter sido uma alteração do organismo dos sapos.

Sobre o Autor

Roberta M.

Gosto de escrever sobre diversos assuntos, principalmente curiosidades e tecnologia. Contato: [email protected]