É bem possível que a humanidade nunca tenha vivido antes na história uma realidade tão favorável ao culto a si mesmo. Esse tipo de ambiente estimula traços que nem sempre são agradáveis, mas um em específico acaba chamando muito a atenção, embora nem todo mundo saiba que se trata de uma questão patológica.
O narcisismo, em geral, é uma característica que as pessoas atribuem umas as outras sem entender o que realmente significa. Narcisistas são pessoas que possuem dificuldade para sentirem empatia pelos outros, geralmente gostam de serem admirados (quase cultuados) e reconhecidos, podendo até mesmo agir de forma problemática para atingir objetivos.
Essa é uma característica que esta muito enraizada em transtornos psíquicos, podendo evidenciar patologias graves. Mas será que sempre se trata de uma questão perversa? A ciência começa a elucidar essa questão e a resposta pode ser surpreendente.
Estudo publicado na Personality and Individual Differences
Um novo estudo com 270 pessoas com idade média de 20 anos dá mais atenção à noção de que os comportamentos narcisistas nem sempre são movidos pelas mesmas coisas que a psicopatia.
“Por muito tempo, não estava claro por que os narcisistas se envolvem em comportamentos desagradáveis, como a autocomplacência (ato de desculpar-se por seus erros), já que isso faz com que os outros pensem menos deles. Nosso trabalho revela que esses narcisistas não são grandiosos, mas sim inseguros”, disse o psicólogo clínico Pascal Wallisch, da New York University (NYU).
“Mais especificamente, os resultados sugerem que o narcisismo é mais bem entendido como uma adaptação compensatória para superar e encobrir a baixa autoestima”, acrescentou a psicóloga clínica Mary Kowalchyk, também da NYU.
Os psicólogos já distinguem entre dois tipos bastante diferentes de narcisistas: ‘narcisistas vulneráveis’ que têm baixa auto-estima, ansiedade de apego e são altamente sensíveis a críticas; e ‘narcisistas grandiosos’, que têm alta autoestima e auto-engrandecimento.
“Os narcisistas são inseguros e lidam com essas inseguranças engrandecendo a si mesmos. Isso faz com que os outros gostem menos deles no longo prazo, agravando ainda mais suas inseguranças, o que leva a um ciclo vicioso de comportamentos ‘auto-engrandecedores’”, disse Kowalchyk.
Isso contrasta com os indivíduos que exibem um narcisismo grandioso, que genuinamente acreditam em sua própria importância e não exibem sinais de insegurança. Para os pesquisadores, a diferença entre os dois vai além da distinção de categorias.
O que o novo estudo sugere é que o narcisismo pode surgir de dois pontos: uma psicopatia, quando o indivíduo realmente acredita ser melhor dos que os demais; ou em compensação ao próprio mal-estar gerado pela baixa auto-estima. Entender o narcisismo é um ponto muito relevante, especialmente tendo em vista que pessoas narcisistas podem causar dor e sofrimento nas pessoas ao seu redor, por conta dos padrões de abuso narcisistas.
Apesar de ser um problema real e patologico em muitos casos, o narcisismo se manifesta como traço da personalidade de muitas pessoas a todo o momento. Incentivar o trabalho em equipe e a empatia entre crianças tende a combater esses traços, que podem representar problemas reais na vida adulta, especialmente em tempos de rede social e culto a auto-imagem.