O trabalho é, na sociedade como conhecemos, algo extremamente necessário. A menos que você seja um herdeiro, provavelmente vai precisar trabalhar para pagar as contas. Ainda assim, como a sociedade também atrelou o trabalho a ideia de dignidade, até mesmo um herdeiro vai precisar trabalhar, ou pelo menos fingir que trabalha.
Trabalho e condição social são diretamente ligados, mas também proporcionalmente opostos. Quanto melhor for sua condição social ao nascer, menos você vai trabalhar; quanto pior for sua condição social ao nascer, mais você vai trabalhar. Isso, inclusive, influencia na maneira como as pessoas trabalham.
É sabido que pessoas com maior segurança social geralmente não se expõem a condições de trabalho degradantes, ou perigosas. Já pessoas com segurança social menos garantidas, geralmente vão ser menos seletivos com o trabalho que desempenham. E por que tudo isso importa? Um novo estudo sugere que cerca de 745 mil pessoas morrem todo ano devido a jornadas de trabalho excessivas.
O estudo foi encomendado pela OMS, que financiou a pesquisa. Os número são referentes a descobertas feitas a partir de 2016. O Brasil aparece com 4% da população exposta a jornadas de trabalho maior que 55 horas semanais. Vale dizer que, de acordo com a lei trabalhista em vigor no momento, o limite de horas semanais é de 44h dentro do território brasileiro.
O que nos leva a um dos pontos discutidos a partir do estudo. Quanto mais fortes e claras são as leis trabalhistas de um país, melhores condições de trabalho a população passa a ter acesso. Para se ter ideia de uma comparação, nos EUA, a carga horária máxima semanal é de 40 horas – ou seja, 4 horas a menos que no Brasil. A Europa, por sua vez, determinava como limite a carga horária semanal de 48h, mas incluindo hora extra.
Ainda a nível de comparação, o estudo revela que as partes do mundo mais afetadas por cargas horárias abusivas são o Sudeste Asiático e na região do Pacífico Ocidental. Por lá, uma grande parcela da população acaba sendo submetida a longas jornadas.
O estudo revelou ainda que os homens são quem mais morrem em função das longas jornadas de trabalho, representando 72% da população do estudo. A pesquisa, no entanto, não se debruçou sobre os efeitos da chamada “jornada dupla” – isto é, chefes de família que trabalham e desempenham papel indispensável na manutenção da casa e cuidado da família, um papel geralmente desempenhado por mulheres.
Como principais colapsos de saúde estão questões cardíacas e neurológicas, chegando a se manifestar em casos de AVC e parada cardíaca, geradas pelo excesso de estresse e trabalho que, consequentemente, diminui a quantidade de horas dormidas, a qualidade do sono, o tempo para o cuidado do corpo e o tempo para dedicar a atividades de prazer e sociais.
A pandemia também tem sua parcela de responsabilidade em dados recentes. Os novos modelos de trabalho, de acordo com especialistas, não respeitam a carga horária dos contratos, em muitos casos. O “home office” acaba fazendo com que o trabalhador sinta a necessidade de estar sempre disponível, o que aumenta os problemas.