O Brasil vive momentos ainda de completa agonia em relação a covid-19, mas alguns países já avançam bastante em vacinação. De acordo com dados da Our World In Data, por exemplo, países como Estados Unidos e Reino Unido estão correndo na frente da vacinação, enquanto o Brasil vacinou apenas cerca de 5% de sua população. Para se ter ideia, até junho, a China pretende ter 40% de sua população vacinada.
A diferença da realidade já é sentida na vida cotidiana. Enquanto alguns lugares do mundo já começam a discutir a reabertura e a retomada da vida “normal”, o Brasil segue discutindo lockdown. A falta de vacina e a falta de coordenação política de como obte-las é um problema real. A ciência nacional agoniza na falta de investimento e algumas poucas instituições começam agora a testar suas próprias vacinas.
Tendo tudo isso em mente, a notícia de que pesquisadores britânicos estão interessados em reinfectar cidadãos britânicos propositalmente com a covid-19 é simplesmente insano. Mas é real. Para isso, os pesquisadores estão em busca de pessoas dispostas a se reinfectar de forma voluntária, o que inclui assumir o risco de morrer caso algo dê errado.
A intenção é toda em função da ciência. Os pesquisadores querem entender como funciona a imunidade natural das pessoas contra vírus. Por isso, para participar do projeto, os voluntários precisam ter tido a doença recentemente. Assim, serão expostos novamente ao vírus na expectativa de contraírem novamente a doença.
QUAIS SÃO AS DÚVIDAS?
Desde o começo da pandemia, as questões acerca da reinfecção sempre foram muitas. A princípio, acreditava-se que os indivíduos infectados não teriam facilidade em se infectar novamente. Essa teoria caiu por terra rapidamente, quando, em questão de meses, os casos de reinfecção começaram a pipocar mundo afora.
Com isso, nasce uma nova dúvida: a reinfecção é necessariamente mais perigosa que a primeira infecção? Ou seja, o vírus se torna mais perigoso em uma segunda infecção? Essa é uma dúvida sobre a qual muitos cientistas tem se debruçado, mas cujo as informações continuam inconclusivas até o momento. Enquanto alguns casos foram realmente de reinfecções mais graves do que a infecção, muitas pessoas também tem a covid-19 assintomática num segundo contágio.
Esse estudo não é exatamente novo, em fevereiro os pesquisadores da Universidade de Oxford já haviam começado a infectar jovens saudáveis que não haviam tido a covid-19. Agora, com esses dados em mãos, os pesquisadores querem infectar jovens saudáveis que já tiveram a doença.
O cientistas defendem que esse tipo de estudo é completamente necessário, e diferente de outros exames observacionais, porque todo o período de contágio é documentado e acompanhado. “Os estudos de desafio nos dizem coisas que outros estudos não podem porque, ao contrário da infecção natural, eles são rigidamente controlados”, afirma Helen McShane, cientista-chefe do estudo.
No primeiro estágio da pesquisa, os cientistas querem descobrir qual a menor taxa necessária para infectar 50% dos voluntários, que terão idades entre 18 e 34 anos, a fim de que tenham poucos ou nenhum sintoma. Logo depois disso, os voluntários cumpririam um isolamento de 17 dias e, quem apresentasse sintoma, seria exposto a um tratamento desenvolvido pela Regeneron, baseado em anticorpos monoclonais.