Sendo totalmente honesto, quando foi a última vez que você precisou memorizar um número de telefone? Para a maioria de nós, nos tempos atuais, existe a necessidade de memorizar o próprio número e, talvez, o número de alguém importante, como pais e cônjuges. Mas esse é apenas um exemplo de como a mente humana “terceirizou” o serviço de memória ao longo dos últimos anos, graças ao avanço das tecnologias.
Agendas de tarefas, agenda de contatos, datas de aniversário, anotações, senhas e todo tipo de informação que possam ser relevantes, a maioria de nós anota no telefone e deixa que o aparelho faça o serviço. Mas o quanto isso estaria sendo responsável por prejudicar a saúde da memória? Isto é, será que estamos ficando prejudicados a longo prazo em relação a nossa capacidade de memória?
Esse não é um assunto pacificado e gera ainda calorosas discussões. De um lado, existem especialistas que acreditam que a falta de exercício pode, de fato, prejudicar a mente humana. Expressões como “amnésia digital” ou “demência digital” chegaram a ganhar força para designar um tipo específico de problema de memória, problema neurológico. Para os especialistas mais pessimistas, esse problema é real e pode se tornar uma espécie de pandemia caso continue sendo negligenciado.
Mas, como dito anteriormente, esse não é um tema pacificado. O neurocientista Sam Gilbert, por exemplo, acredita que existe um exagero na abordagem ao tema. Para ele, a questão é mais simples do que parece. Isso porque Gilbert acredita que esta cedo demais para tomar qualquer conclusão a respeito dos efeitos da tecnologia nas funções cerebrais. Além disso, o especialista também destaca que não existem evidências reais que sustentem essa teoria de “amnésia digital” ou “demência digital”.
Gilbert se dedica ao estudo da memória e desenvolve uma pesquisa específica sobre o uso de dispositivos externos como recurso de memória. Para ele, ao usarmos um lembrete digital, não estamos abrindo mão de usar o cérebro mas apenas dando prioridade a “informações diferentes para armazenar”. Ele argumenta que o cérebro ainda vai guardar uma série de informações, talvez apenas a data que não. Em outras palavras, Gilbert não descarta totalmente a possibilidade de que as tecnologias gerem algum tipo de risco, mas ressalta que ainda é cedo para dizer.
“Nosso estudo foi principalmente focado na questão da memória e, nesse domínio, acho que as pessoas não devem temer esses dispositivos”, explica o especialista. Apesar disso, Gilbert analisa também que existem riscos que devem ser levados em conta, mas que apenas não são tão simples.
Quando se trata de memória, não conheço nenhuma evidência que mostre um efeito nocivo de smartphones ou outros dispositivos. Pode haver outros aspectos em que o uso de um dispositivo externo possa prejudicar nossa capacidade. Um exemplo pode ser a navegação. Há algumas evidências de que, se as pessoas aprenderem uma rota seguindo um dispositivo GPS, aprenderão essa rota menos bem do que se navegassem sozinhas.
Gilbert avalia que os benefícios dessas tecnologias superam os possíveis riscos, especialmente porque não existem evidências de que elas sejam realmente perigosas.