A expressão “autoridade no assunto” pode ser uma forma gentil e polida de enunciar que alguém tem conhecimento notório sobre determinado tema, mas também pode ser um meio de manipular a audiência. Isso porque, geralmente, quando escutamos alguma “autoridade” falar sobre um assunto, dificilmente temos a iniciativa de questionar aquilo que é falado. Quando algum “especialista” fala, a tendência é a de que o público se cale e apenas preste atenção, tudo em função da crença de que aquela pessoa sabe mais sobre o assunto do que os demais, “leigos”.
Mas o que acontece quando uma autoridade usa de sua posição para deliberadamente transmitir informações falsas? Vivemos em uma era onde a informação circula cada vez mais rápido e, ao mesmo tempo, nem sempre compromissada com a verdade. Não é a toa que a expressão “fake news” tenha se popularizado tanto e as técnicas são conhecidas. Atribuir uma informação à alguém que supostamente jamais mentiria sobre ela faz com que as pessoas acreditem sem nem mesmo ler ou ouvir todo o argumento.
Uma boa prova da importância desse tema acabou vindo de alguém que não levantaria nenhuma suspeita. O francês Étienne Klein, nada mais, nada menos, que chefe do departamento de pesquisa da Comissão Francesa de Energia Atômica, usou seu twitter para promover uma reflexão importante. Talvez nem ele tenha tido a intenção de promover nenhum debate ao fazer uma brincadeira, mas a repercussão da história o levou a isso.
Tudo começou quando, pelo twitter, o cientista postou uma imagem curiosa. Na legenda, Klein afirmava que aquela seria uma imagem capturada pelo telescópio James Webb e que revelaria detalhes de uma estrela. “Foto de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol, localizada a 4,2 anos-luz de nós. Foi capturada pelo JWST. Este nível de detalhe… Um novo mundo é revelado dia após dia da estrela mais próxima do sol“, dizia a legenda. A imagem trazia um fundo escuro, com uma esfera de tom vermelho e vários detalhes. A imagem, se fosse mesmo o que Klein afirmava ser, poderia ser revolucionária e uma fonte de muitas pesquisas. No entanto, o cientista estava “trollando” seu público. O que, talvez, nem ele esperava é que o público e a mídia fossem levar a história a frente.
Acontece que a imagem, na realidade, é apenas a foto de um salame. Isso mesmo, um salame. O que era para ser uma brincadeira, se tornou um problema ao ser repercutido internacionalmente como verdade. Por fim, Klein acabou retornando as redes para pedir desculpas. No entanto, o cientista não perdeu a chance também para dar uma alfinetada no público. “Vamos aprender a desconfiar tanto dos argumentos de autoridades quanto da eloquência espontânea de certas imagens”, afirmou.
Apesar da brincadeira ter criado algum nível de mal-estar e constrangimento, a situação toda fez a diversão de muitos internautas. A despeito do que alegou o cientista no momento em que publicou a imagem, o registro trazia detalhes apenas de um salame, cortado e exposto. Não havia nada de espetacular na imagem, no fim das contas.