Históricas

Ricardo Coração Leão – O Rei Guerreiro

Ricardo Coração Leão – O Rei Guerreiro
Inglaterra 08/09/1157 Domingo – 06/04/1199 Terça-feira

A Primeira Cruzada terminara em 1099 com a vitória dos cristãos e a Palestina com Jerusalém fora libertada dos turcos seldjúcidas. Mas em 1.187, Jerusalém caía nas mãos de Saludino, o sultão dos “infiéis” – como eram chamados pelos cristãos os seguidores do islamismo. Contudo, a Europa cristã não se conformou com a perda da Terra Santa: o papa enviou emissário a todos as cortes para organizar a campanha da reconquista. Os reis Filipe Augusto da França, Ricardo I da Inglaterra e Frederico Barba-roxa da Alemanha responderam logo ao apelo papal. Mas só Ricardo I, cognominado Coração de Leão por sua bravura e intrepidez nos campos de batalha, se destacaria de fato na Terra Santa. Ricardo, terceiro filho do Rei Henrique II da Inglaterra e de Eleanora da Aquitânia, recebeu o Ducado aos 15 anos e correspondia à atual região sul-ocidental da França, ao redor da cidade de Bordéus. Em 1183, quando morreu seu irmão mais velho Henrique, Ricardo tornou-se herdeiro do trono inglês e da Normandia, na atual França, que então pertencia aos soberanos ingleses. Contudo, as questões dinásticas obrigaram-no a renunciar a Aquitânia em favor de seu irmão João.

A recusa de Ricardo em fazê-lo deu início a um período de lutas nas quais Ricardo recebeu a ajuda do Rei Filipe Augusto da França. Contudo, perde esse auxílio logo, pois ofende a honra do rei ao rejeitar o casamento com sua irmã, Alice. Os caminhos da Inglaterra vão tomar outros rumos. Mas os interesses conjuntos ainda são fortes: a conquista da Terra Santa – ponto crucial das rotas comerciais para a Ásia e o símbolo da fé cristã – supera as desavenças das dinastias. Assim, Ricardo e Filipe concordam em participarem juntos, da Terceira Cruzada.

A causa apaixona-os, principalmente a Ricardo, que nela vê a oportunidade de viver como tantas vezes sonhara, isto é, como um verdadeiro cavaleiro e imperador de novas terras. As dificuldades para formar um grande exército não o intimidam e ele não vacila em impor taxas altíssimas – o “imposto de Saladino” – a todos os súditos que não fossem participar diretamente da Cruzada. Além disso, vende tudo o que pode, reunindo fundos para a campanha. Antes de partir para a guerra, em 1189, confia o governo a dois bispos, sob a supervisão de sua mãe, a velha rainha Eleonora de Aquitânia. Após atravessar a França, Ricardo permaneceu na Sicília com seu ex-inimigo e atual aliado Filipe até a primavera de 1191. Depois ruma para Chipre, dominada pelos bizantinos. Desejoso de chegar à Palestina precedido de glórias militares, além do fato de que a posição estratégica da ilha era altamente convidativa, acusa o governador grego da mesma de ter insultado sua noiva. Assim, sob esse pretexto, declara-lhe a guerra, conquista Chipre e torna-se herói.

A 8 de julho de 1191, segunda-feira, os exércitos de Ricardo e Filipe Augusto reúnem-se finalmente em Acre – a cidade fortificada na costa do Pacífico – que, rebatizada para Saint Jean d’Acre, existe hoje com o nome de Acco em Israel. A fortaleza é dominada em cinco semanas. Todavia, a rivalidade entre os aliados tornava-se cada vez mais grave: irrequieto e orgulhoso, Ricardo insulta rei ricardo Leopoldo da Áustria, enquanto suas relações com Filipe chegam a tal ponto, que este retorna para a França e entra em contato com o Príncipe João, irmão de Ricardo, para ambos partilharem o reino de Ricardo. Enquanto isso, Ricardo vence novas batalhas e leva os cruzados por duas vezes até o muro de J erusalém. Mas as notícias que recebe da Inglaterra sobre as tramas de Filipe e João o inquietam. Antes, porém, recebe do sultão Saladino o reconhecimento da posse das cidades costeiras da Palestina e a garantia do livre acesso dos cristãos ao Santo Sepulcro. Na viagem de volta à Inglaterra, a frota de Ricardo naufraga no mar Adriático, mas ele consegue salvar-se. Para evitar o território francês, resolve atravessar a Alemanha disfarçado. No entanto, é capturado em Viena, no dia 21 de dezembro de 1192, segunda-feira, por ordem de Leopoldo da Áustria, e confinado em um Castelo, às margens do Danúbio. Em princípios de 1193, Leopoldo é obrigado por Henrique VI a entregar seu precioso prisioneiro. Em fevereiro de 1194, Henrique VI liberta Ricardo, apesar dos pedidos de João e Filipe da França para mantê-lo na prisão. E a 16 de março de 1194, quarta-feira, Ricardo entra em Londres, sob aclamação popular. Coração de Leão teve pouco de líder político-administrativo e muito de chefe militar.

Em dez anos de reinado, não permaneceu em sua pátria mais de alguns meses. Sua fama vem de um destemor e uma grandiloqüência com marcante senso de moedas espetáculo. A cena da morte é um exemplo de como ele soube encarar o espírito heróico e improdutivo de seu tempo – Ricardo soubera que o Visconde Limoges, seu vassalo, encontrara uma valiosa moeda de ouro perto do Castelo de Chalus e como soberano feudal, exigiu que a moeda lhe fosse entregue. Não sendo atendido, resolveu sitiar o fortim do visconde. Durante a luta, uma flecha atingiu-lhe o ombro. Era o fim: a ferida gangrenava e o rei viu que estava morrendo. No tempo que lhe restou, proclamou seu herdeiro João e ordenou o perdão para o arqueiro que o alvejara.

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