Quando ouvimos falar em múmias, é natural pensar em civilizações de outros países. O Egito, por exemplo, é reconhecido internacionalmente por sua tecnologia de mumificação. Esses processos preservavam os corpos humanos de seu processo natural de decomposição, permitindo que milhares de anos depois esses corpos fossem localizados.
O Brasil e, em geral, os países sul-americanos costumam ser muito esquecidos quando o assunto é História. Isso acontece porque a história desse continente geralmente é contada a partir das grandes navegações europeias, o período colonial. No entanto, seria ingenuidade e ignorância acreditar que apenas nesse período é que houveram civilizações. Na realidade, é sabido que haviam povos nessa região, os chamados povos indígenas, mas a complexidade desses povos geralmente não é levada em consideração.
Essa situação leva a uma bola de neve que nunca se encerra: sem interesse, não existe investimento; sem investimento, não existe pesquisa; sem pesquisa, não existe descoberta; sem descoberta, não se gera interesse; sem interesse, não existe investimento…. Entende?
No entanto, apesar disso, existem sim cientistas interessados em descobrir mais sobre o Brasil antigo. Em 1970, a primeira e única múmia brasileira foi encontrada em uma caverna. Essa descoberta também tem grande valor sul-americano, já que nenhuma outra múmia jamais foi encontrada no continente. Agora, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) voltaram ao local, para novas explorações.
Essa nova exploração, na Gruta do Gentio II, em Unaí (MG), resultou em novas descobertas. Segundo um dos coordenadores da pesquisa, Francisco Antonio Pugliese Junior, chama a atenção a conservação do material orgânico no local. Em entrevista ao jornal Metrópoles, o pesquisador explicou.
“Há centenas, talvez milhares de indivíduos sepultados no sítio. Encontramos dezenas de ossos esparsos pelo local e a expectativa é de encontrarmos outras múmias, porque o sítio é excepcional do ponto de vista da preservação de materiais que foram depositados até 12 mil anos atrás”, afirmou.
A nova expedição é extremamente relevante, especialmente porque a última exploração na gruta foi feita apenas em 1980. Em 1970, a primeira exposição revelou a primeira múmia brasileira. Depois, já no começo de 1980, o Instituto de Arqueologia Brasileira voltou ao local com uma nova pesquisa. De lá para ca, são cerca de 40 anos sem nenhuma exploração. O projeto recebeu aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para uma pesquisa de três anos.
O coordenador explica que um dos esforços maiores agora é entender qual era o papel ocupado pela Gruta naquele período, há cerca de 4 mil anos. A múmia encontrada na década de 70 recebeu o nome de “Acauã” e pertenceu a uma menina que morreu aos 12 anos de idade. Outras ossadas foram localizadas no local, mas em diferentes locais e estados de conservação.
Apesar das novas tecnologias, o coordenador confirma que o sítio arqueológico sofreu danos irreparáveis ao longo dos anos em que permaneceu abandonado. Mesmo assim, existe uma grande expectativa para que novas descobertas sejam feitas. Um dos principais objetivos do grupo de pesquisadores é o de localizar novas múmias e entender a função da gruta. Além disso, o local pode passar a integrar um projeto prático com estudantes da Universidade.