A história que você vai conhecer aqui é muito rara, e impressionante. Um homem engravidou a companheira. A criança nasceu e um teste de DNA foi realizado, tendo resultado negativo. Seria o bebê fruto de traição? Não. Este homem possuía, em si, dois DNAs diferentes. Mas vamos por partes para entender o caso.
Depois de uma série de tratamentos de fertilidade, um menino nasceu de um casal anônimo de Washington, Estados Unidos, em junho de 2014. O nascimento parecia relativamente normal – até que exames de sangue de rotina destacaram uma discrepância entre os tipos de sangue dos pais e do bebê. Confuso com essas descobertas iniciais, o homem foi convidado a fazer testes de paternidade de acompanhamento. Foi revelado que ele não era o pai do bebê.
Claro que a descoberta trouxe uma série de dúvidas e questionamentos. Afinal de conta, quem seria o pai da criança? A mão jurava não ter traído o marido e exames comprovaram que esse realmente não era o caso. O homem tinha, em si, duas sequências genéticas e hoje a ciência consegue explicar o porque.
O que acontece é que o homem era, na verdade, um gêmeo e seu irmão nunca chegou a se desenvolver completamente. Assim, ele nasceu como filho único mas carregando, silenciosamente, o código genético do próprio irmão. Na medicina, o caso é conhecido como quimera, em referência a mitologia.
O caso de Washington se tornou o assunto de um estudo publicado no Journal of Assisted Reproduction and Genetics, em 2017. Os pesquisadores explicam que os testes genéticos revelaram que o homem e a criança compartilhavam apenas 25 por cento de seu DNA – a mesma quantidade compartilhada por um tio com um sobrinha ou sobrinho.
Um pai biológico completo, por outro lado, deve compartilhar 50% de seu DNA com o filho. Este foi o ponto onde as coisas começaram a se encaixar e os pesquisadores começaram a especular se um caso de quimerismo estava atrapalhando os resultados.
O quimerismo tetragamético é uma forma de quimerismo congênito. Essa condição ocorre quando dois óvulos separados são fertilizados por dois espermatozoides. Essas duas estruturas separadas vão “fundir-se” no estágio de blastocisto ou zigoto, resultando no desenvolvimento de um único organismo com linhagens celulares mescladas e efetivamente dois conjuntos de DNA em diferentes partes do corpo.
O quimerismo foi encontrado em humanos antes, mas acredita-se que seja excepcionalmente raro. Em 2009, uma cantora americana descobriu que tinha quimerismo tetragamético após investigar uma rara marca de nascença que percorreu o centro de seu corpo. As estimativas variam, mas a maioria das fontes sugere que houve apenas cerca de 100 casos documentados em humanos.
Este caso em Washington, no entanto, foi ainda mais incomum porque as células do gêmeo não nascido do homem foram incorporadas em suas células reprodutivas, dando origem ao esperma de duas linhas celulares distintas. Em outras palavras, alguns de seus espermatozoides eram “dele”, enquanto outros continham o material genético de seu gêmeo não nascido.
O mais curioso é que o mesmo casal teve um segundo filho e, dessa vez, a criança foi concebida a partir dos espermatozoides do homem. Sendo assim, as crianças não dividiam o DNA do pai. Geneticamente, elas são irmãs por parte de mãe, mas “primas” por parte de pai.