Ciências

Falsas memórias da infância podem ser plantadas e apagadas do cérebro facilmente

A maioria das pessoas tem a falsa noção de que as memórias são construções cronológicas e fieis da realidade. Na verdade, a memória é composta por uma série de fatores, mas principalmente a interpretação da realidade. Você pode se lembrar de algo que aconteceu ontem com muitos detalhes, mas dificilmente vai ter a mesma riqueza de detalhes para lembranças de 10 anos atrás. Nas falhas da memória, o cérebro aciona ninguém menos que a criatividade.

E essa é uma descoberta que vem sendo provada cientificamente. Em um novo estudo, os pesquisadores mostraram como é possível plantar falsas memórias de infância na imaginação de uma pessoa e, em seguida, corrigir as falsas lembranças sem danificar as memórias verdadeiras.

COMO FOI CONDUZIDO O ESTUDO?

Psicólogos da Universidade de Hagen, na Alemanha, e da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, reuniram 52 pessoas para participar de um estudo sobre memórias de infância. Antes do experimento, os pesquisadores enviaram questionários aos pais dos participantes, solicitando dois eventos que ocorreram na infância e outros dois que nunca aconteceram, mas pareciam plausíveis. Os participantes foram então encorajados por seus pais a acreditar que todas as memórias eram reais. Por exemplo, pode ser uma história falsa sobre eles se perderem nas férias, fugir de casa ou se envolver em um acidente.

Depois disso, os 52 participantes foram chamados para várias sessões de entrevista, nas quais foram solicitados a relembrar os eventos anteriores enviados por seus pais. Depois de serem submetidos a técnicas de sugestão pelas entrevistas, até 56% dos participantes acreditaram que os eventos falsos realmente ocorreram – ricas memórias falsas foram sutilmente introduzidas em suas mentes.

As descobertas foram publicadas recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

ALÉM DE PLANTAR, TAMBÉM É POSSÍVEL EXCLUIR LEMBRANÇAS

Crucialmente, os pesquisadores também foram capazes de remover as falsas memórias sem dizer explicitamente qual história era mentira. Em uma técnica, eles lembrariam aos participantes que as memórias nem sempre são baseadas em experimentos, mas podem ser obtidas de coisas como fotografias ou a história de um membro da família. Nesse caso, eles foram solicitados a relembrar a fonte da memória, que muitas vezes revelava que a história era, de fato, uma fantasia.

Outra técnica simplesmente destaca que relembrar repetidamente um evento às vezes pode gerar memórias falsas. Com isso em mente, os participantes foram convidados a relembrar suas próprias memórias de eventos, e a maioria percebeu quais memórias eram falsas.

Nosso estudo apoia a ideia de que o caso das falsas memórias foi exagerado e que não há muito com que se preocupar com elas, pois podem ser eliminadas? A resposta é um enfático não. O que nosso estudo mostra é que as memórias falsas podem ser induzidas em condições adequadas e revertidas em outras condições adequadas”, concluem os autores do estudo.

Os pesquisadores dizem que seu trabalho não é apenas uma demonstração de como as memórias podem ser maleáveis, mas também argumentam que isso pode mudar a maneira como vemos as confissões e integrações em tribunais. Se for possível implantar facilmente uma falsa memória usando métodos sutis de sugestão, então isso destaca ainda mais a falta de confiabilidade dos depoimentos das testemunhas.

Em julgamentos por todo o mundo, muitas vezes, casos inteiros são resolvidos com base em depoimentos de testemunhas. O que o estudo questiona é a confiabilidade dessas testemunhas, se tratando de algo tão maleável quanto a lembrança.

Sobre o Autor

Roberta M.

Gosto de escrever sobre diversos assuntos, principalmente curiosidades e tecnologia. Contato: [email protected]