Por Luiz Lopez
AQUECIMENTO GLOBAL E ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS: O PASSADO, O FUTURO E A FICÇÃO
Uma das grandes preocupações dos ativistas ecológicos no momento é com o possível aquecimento da Terra. Esse aquecimento seria causado pelo aumento da concentração de gases (como o gás carbônico e o metano) que dificultam que o calor solar absorvido pela Terra seja perdido de volta para o espaço (o chamado efeito-estufa).
Tais preocupações com as conseqüências, talvez catastróficas, de futuras mudanças climáticas deram origem inclusive a livros e filmes de ficção (como por exemplo “O dia depois de amanhã” que passou nos cinemas).
Para compreender essas alterações climáticas é importante conhecermos como o clima variou ao longo da história do planeta Terra. Pela composição das rochas podemos supor que a Terra existe a pelo menos 4 bilhões de anos e que muito antes do aparecimento da espécie humana (a cerca de “somente” 100 mil anos atrás) o clima do planeta tem atravessando diversas fases de temperaturas, tanto mais baixas como mais altas do que aquelas que temos hoje em dia.
Um artigo científico publicado recentemente na conceituada revista Nature, levanta uma hipótese para explicar uma fase de aquecimento global ocorrida a 55 milhões de anos atrás e que estaria relacionada ao funcionamento dos ecossistemas aquáticos (um tema relacionado portanto a nosso estudo em Grandes Temas em Biologia).
-Gelo de Metano e Vulcões Submersos
No fundo de mares e lagos é comum que haja falta de oxigênio nos sedimentos onde vão se depositar os restos de organismos em decomposição. Na ausência de oxigênio o carbono desses organismos mortos não é decomposto completamente até se transformar em gás carbônico como ocorre em ambientes oxigenados. Em vez disso, o carbono é transformado pelas bactérias anaeróbicas em hidrocarbonetos como o metano (o qual é altamente inflamável e conhecido como “gás dos pântanos” justamente por se formar em ambientes sem oxigênio como o fundo dos pântanos).
Em lugares frios o metano assim formado tende a permanecer como uma “pasta” semicongelada no fundo de mares e lagos que se transformam assim em gigantescos reservatórios de “carbono escondido”. Se algum fenômeno fizer com que essas reservas de metano sejam liberadas rapidamente do fundo das águas, o metano entrara em contato com o oxigênio e dará origem a gás carbônico o qual tenderá a reter mais calor do sol levando a um maior aquecimento global.
O que um grupo de cientistas noruegueses descobriu foram extensos sinais de atividade vulcânica no fundo do mar da Noruega que teria ocorrido a cerca de 55 milhões de anos atrás e que coincide justamente com uma fase de rápido e intenso aquecimento global. Os cientistas formularam então a hipótese de que esse aquecimento teria ocorrido principalmente por um efeito secundário da ação desses vulcões submarinos.
Tais vulcões submersos alem de liberarem diretamente gás carbônico, teriam indiretamente aquecido o fundo gélido do oceano fazendo com que a pasta congelada de metano ai depositada se transformasse em gás. Todo esse metano liberado, indo parar na atmosfera, gerou então um poderoso aumento do efeito estufa responsável pelo aquecimento de 5 a 10 graus Celsius, ocorridos em todo o planeta a 55 milhões de anos atrás.
-Lições do passado para o futuro.
O conhecimento dos fatores que alteraram o clima no passado pode ser muito útil para entender o que poderá acontecer com o clima no futuro. Talvez as alterações induzidas pelas atividades humanas se dêem de forma gradual permitindo que possamos nos adaptar a elas sem grandes custos. Contudo se as atividades humanas gerarem alterações tão ou mais rápidas do que aquelas ocorridas a 55 milhões atrás seriam necessárias medidas preventivas urgentes para se prevenir impactos dramáticos na economia global.
No filme “O dia depois de amanha” por exemplo o diretor imagina o que aconteceria se as correntes de água quente que fluem dos mares tropicais para os pólos fossem interrompidas bruscamente devido a alterações climáticas, criando assim uma nova idade do gelo. Embora em ciência tudo seja possível o mais provável é que no futuro enfrentemos um crescente aquecimento, e não um resfriamento do clima como vemos no filme.
Esse aquecimento pode ser gradual e assimilável pela economia como dizem as previsões mais otimistas. Contundo, se o aquecimento fizer, por exemplo, com que a pasta de metano do fundo dos lagos e mares frios se transforme rapidamente em gás e escape para a atmosfera, o aquecimento pode então gerar um ciclo vicioso e ocorrer de forma rápida e descontrolada. Somente mais estudos poderão separar o futuro do cinema da realidade de depois de amanhã.