Depois de tanto tempo vivendo uma pandemia, pode ser difícil em certos momentos voltar a lembrar de algumas coisas do começo do pesadelo. Por isso, felizmente, existem os registros. A covid-19 surgiu em Wuhan, na China, local onde houve o primeiro “epicentro”, termo que designa o local onde os casos se concentram.
De lá, foi questão de tempo até que o vírus se espalhasse pelo mundo. A Itália acabou vivendo o segundo epicentro da doença, com uma escalada de casos e mortes diárias que chocaram o país. Do começo da pandemia para ca, foram mais de 128 mil mortos para um país com pouco menos de 60 milhões de habitantes. O número é muito alto e logo começaram os estudos de caso.
Num primeiro momento, criou-se a ilusão de que a covid-19 era uma doença fatal apenas para idosos e pessoas vulneráveis em função de alguma comorbidade. Essa ideia perdurou e contribuiu para uma desinformação geral a respeito da doença. Para muitas pessoas, a pandemia se resumiu em um perigo apenas para esses grupos, os chamados “grupos de risco”. O tempo, no entanto, tem provado que essa ideia é falha e frágil.
Casos de pessoas jovens e saudáveis, isto é, sem comorbidades, sendo vítimas de casos graves, e até morrendo, pela doença tem se multiplicado. Esses casos aumentam a atenção da população geral em relação a covid-19. Além disso, um estudo recentemente publicado também aponta nessa direção.
Mais de 70 mil casos analisados
No Reino Unido, um estudo inédito analisou um total de 73.197 casos. A pesquisa foi um esforço conjunto entre o Departamento de Saúde e Assistência Social, a agência de saúde pública da Inglaterra e sete Universidades do país. Os mais de 70 mil casos foram observados em 302 hospitais e serviram para a obtenção de diversas informações.
Os casos foram observados no ano passado, durante a chamada “primeira onda” da doença no país. O interessante é que os resultados acabam refletindo o estágio da pandemia naquele momento, diante do vírus e pouco afetado pelas variantes. o estudo revela que, independente da idade ou situação de saúde antes da infecção, cerca de metade dos pacientes desenvolveu alguma complicação para a doença.
O estudo foi publicado na revista The Lancet aponta que o problema mais comum para os pacientes com covid-19 foram envolvendo os rins. Depois das complicações renais, as mais comuns foram lesões pulmonares e problemas cardíacos. Os médicos ainda estão tentando entender como essas complicações acontecem, mas acredita-se que o próprio sistema imunológico seja responsável por elas. O vírus seria capaz de “desequilibrar” o sistema imunológico, fazendo com que ele ataque o próprio corpo, seus tecidos, gerando lesões.
Para pessoas mais jovens, com menos de 50 anos, as complicações foram consideradas “muito comuns”, o que refuta completamente a ideia de que a doença só é perigosa para idosos e pessoas com comorbidade. Entre pessoas de 40 a 40 anos, 43% teve complicações. O número caiu para 37% entre pacientes de 30 a 39 anos e 27%, entre pacientes de 19 a 29 anos. Outro número surpreendente é que 13% dos pacientes com 19 à 29 anos não puderam ficar sozinhos após receber alta, precisando de cuidados de terceiros (o número subiu para 17% entre pacientes com idades entre 30 e 39 anos).