Aos 24 anos de idade, Simone Biles atendeu a todas as expectativas depositadas sobre ela e fez história nas Olimpíadas de Tóquio. No entanto, a forma como a jovem ginasta entrou para a história foi completamente inusitada. Ninguém esperava que Biles ousasse desistir dos Jogos, simplesmente porque isso não era uma possibilidade.
Ainda assim, Simone foi lá e provou que não só era uma possibilidade, como seria o caminho que ela iria tomar. A atitude de Simone não deveria ter sido uma surpresa tão grande, já que ela já havia dado sinais de que não estava bem. Biles é simplesmente a maior ginasta da atualidade, como ela escolheria estar fora dos Jogos?
Ela mesmo deu a resposta: preservação da saúde mental. Biles descreveu o sentimento dos Jogos como “peso do mundo”. Por mais forte que a frase possa parecer, não é exagero. Em todo o mundo, todas as emissoras de TV que transmitem os jogos estavam antecipando sua aparição. Mas essa pressão foi demais e a jovem preferiu se preservar.
Nem todo mundo entendeu, mas isso não significa que a jovem tenha errado. Biles se ausentou, torceu pelas colegas, vibrou com o esporte (como mera telespectadora) e vai ter a chance de voltar para casa e repensar sobre as coisas, sobre quais serão seus próximos passos. O que esperar de Simone Biles? Provavelmente, muita gente ainda espera muita coisa, mas talvez o melhor seja não esperar nada.
Em seu comunicado à imprensa, Simone ressaltou que é uma pessoa além de atleta e que, como todo mundo, tem suas próprias questões. É exatamente aí que o grande “problema” reside. Somos todos humanos, então por que tentar atropelar nossas próprias necessidades humanas?
O que dizem os especialistas? O quão importante é se preservar?
A verdade é que todos nós enfrentamos nossas próprias dificuldades, nossos próprios limites. Quem nunca sentiu um frio na barriga? Uma sensação de desmaio, uma tontura, um enjoo? Quem nunca se pegou pensando que não era capaz de fazer alguma coisa? Seja isso um grande ato atlético, ou simplesmente dar conta do trabalho de segunda à sexta e levar comida para casa.
É claro que nem todo mundo tem a projeção de Simone Biles, mas ela acerta ao se “reduzir” a uma simples humana. Isso porque todo ser humano enfrenta os mesmos problemas, em diferentes graus e desenvolvem suas próprias formas de lidar com eles. Esse é o ponto, até o pouco tempo atrás falar sobre saúde mental era sinal de fraqueza, “corpo mole”, “falta de vontade”. Essa percepção, no entanto, tem mudado.
Quantos de nós nos submetemos a situações de estresse apenas porque pensamos que esse é o único caminho? Uma faculdade por pressão da família, uma vaga de emprego apenas porque oferece um bom salário, um relacionamento apenas porque oferece estabilidade. É difícil, e meio romantizado, falar em “vida feliz” onde a felicidade esta atrelada a uma utopia de desejos. Não é possível viver apenas aquilo que queremos, que traz prazer. Mas quando os níveis de estresse ficam fora de controle e ameaçam a sua própria integridade moral, por que insistir?
Desistir esta longe de ser um ato de covardia, muito pelo contrário. Desistir, em muitos casos, é um sinal de que você conhece a si mesmo, reconhece suas limitações e esta disposto a assumir os riscos de não satisfazer as pessoas ao seu redor. Não faz bem desistir de tudo, mas insistir em tudo – mesmo aquilo que te faz mal – também é sinal de que algo não esta bem.