O medo é uma emoção comum a todos os seres humanos. Por maiores que sejam as diferenças entre uma pessoa e outra, existem emoções e características que todos nós compartilhamos. O medo é uma dessas características compartilhadas e também é um alvo de grande interesse da ciência.
É muito curioso, por exemplo, que alguns medos sejam compartilhados e observados com frequência. Por exemplo, não é raro as pessoas terem medo de altura, de escuro, de animais peçonhentos, etc. Mas você já parou para pensar o que pode estar por trás desses “medos comuns”? Talvez ainda sejam necessários alguns anos para essas respostas serem completamente encontradas, mas estamos fazendo progressos. Um novo estudo, publicado na revista Plos One, se propõe justamente em entender porque as pessoas tem medo de escuro.
Não é segredo que a luz desempenha um papel fundamental na vida do ser humano. Desde seus primórdios, os humanos sempre usaram a luz do sol para nortear suas rotinas. Era durante a luz do dia que todas as atividades costumavam ser praticadas, enquanto a noite servia para o descanso. O advento da luz artificial e o domínio do fogo ajudaram a alterar um pouco essa relação, mas até hoje o ser humano continua sendo regido basicamente pela luz do sol.
Pesquisadores da Universidade Monash e da Universidade Católica Australiana se debruçaram no mecanismo por trás do papel do escuro na mente. Segundo o estudo publicado, os pesquisadores descobriram que a luz pode ter um efeito no medo e no centro de processamento emocional do cérebro, uma área chamada amígdala. Primeiro os testes foram realizados em roedores e depois em voluntários humanos.
O estudo envolveu 24 participantes que foram submetidos a fMRI enquanto eram expostos a luz moderada (100 lux) ou luz fraca (10 lux). A fMRI permite que os pesquisadores vejam as áreas cerebrais ativadas em tempo real, observando as mudanças no fluxo sanguíneo no cérebro. Os pesquisadores descobriram que quando os participantes foram expostos à luz moderada, a atividade da amígdala em fMRI foi menor em comparação com quando eles foram expostos à luz fraca.
Além disso, a amígdala também está conectada a uma região do cérebro chamada córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC), que está envolvida no processamento de ordem superior de risco, respostas emocionais e medo. Essa região do cérebro desempenha um papel crítico na regulação da atividade da amígdala e é especialmente importante na supressão de respostas emocionais. Os autores do último estudo também descobriram que a luz não apenas suprime diretamente a atividade da amígdala, mas também parece aumentar a conectividade entre a amígdala e o vmPFC, o que pode explicar como a luz beneficia a regulação emocional.
“A luz é uma ferramenta terapêutica eficaz para problemas de humor. Mostramos que a luz fraca a moderada suprime a ativação da amígdala e aumenta a conectividade da amígdala-vmPFC. Esses efeitos podem contribuir diretamente para os efeitos da luz que elevam o humor por meio de um processamento emocional aprimorado, e uma redução na emoção relacionada ao medo “, diz um trecho do artigo.
É claro que serão ainda necessários novos estudos nesse assunto para esclarecer definitivamente como funciona esse mecanismo, mas parece estar claro que existe diretamente uma relação entre os fatores.