Ciências

Projeto anti-CFC só terá efeito após 2050

Produção do gás que prejudica camada de ozônio caiu 99% desde 1986, mas substância tarda décadas para se dissipar na atmosfera

Com a proibição da produção dos clorofluorcarbonos (CFCs) no mundo, em 1º de janeiro deste ano, o impacto na camada de ozônio é minimizado e os homens podem respirar aliviados, certo? Errado. Muita gente não sabe, mas este gás poluente demora até 100 anos para se dissipar na atmosfera. E, com isso, continua afetando a saúde humana. No entanto, eliminar a fabricação deste agente nocivo foi um primeiro passo fundamental para recuperar a camada de ozônio.

Desde 1987, os países que pertencem ao Protocolo de Montreal, estabelecido para controlar as emissões de substâncias que destroem a camada de ozônio da Terra, comemoram a diminuição de gases nocivos liberados à atmosfera. Em termos concretos, a produção de CFCs caiu 99,7% entre 1986 e 2008: de 1,07 milhão de toneladas para 2.746.

Esta redução, porém, vai demorar a ser sentida na própria atmosfera. O assessor técnico do Protocolo de Montreal, Anderson Moreira do Vale Alves, estima que somente entre 2050 e 2075 a camada de ozônio voltará aos níveis da década de 1990. “Isso acontece porque os CFCs foram sintetizados em laboratório, em 1912, para ser uma substância estável e segura para o uso humano”, explica.

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Inicialmente usado para substituir, como fluido de refrigeração, a amônia e os hidrocarbonetos – substâncias mais tóxicas e inflamáveis-, os clorofluorcarbonos acabaram tendo seu uso amplamente difundido na indústria de eletrodomésticos. Mas só na década de 1970 os pesquisadores começaram a perceber os riscos trazidos por este gás à atmosfera.

Molécula estável
Tanto cuidado com a estabilidade originou uma molécula que demora até um século para se dissipar na atmosfera. “Ela só pode ser degradada pelo Sol, mas por ser pesada depende de correntes de ar para ser levada à estratosfera – camada da Terra situada aproximadamente entre 12 quilômetros e 50 quilômetros acima do solo”, afirma o assessor técnico do Protocolo de Montreal.

Enquanto não é destruída pelo Sol, fica na atmosfera contribuindo à depleção do ozônio, que acontece quando o Cloro da substância reage com um oxigênio presente no O3, espessando a camada. Estas moléculas têm um comportamento curioso, conforme explica a geógrafa Marcia Maria Fernandes de Oliveira. “Elas tendem a se atrair, ou seja, ficam praticamente em uma mesma região”, conta.

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E enquanto não são dissipadas, causam um grande estrago na atmosfera. Isso porque o poder destrutivo dos clorofluorcarbonos em relação ao ozônio é alarmante: cada molécula de CFC pode destruir até 3.000 moléculas de O3. Atualmente, o chamado “buraco na camada de ozônio” tem o tamanho da América do Norte.

Perigo à saúde
A camada de ozônio funciona como um “escudo protetor” da Terra, já que filtra os raios ultravioleta que o Sol emite em direção à Terra. “Estes raios UV são ionizantes, e podem alterar as moléculas de DNA”, afirma a geógrafa Marcia Maria, que coordena projetos de sustentabilidade urbana da Universidade Livre do Meio Ambiente.

Com o espessamento da camada de ozônio, a incidência de radiação ultravioleta fica mais nociva, e isso pode dar origem a doenças como catarata, conjuntivite, herpes, queimaduras e até mesmo o câncer. Mas vamos por partes. Os raios UV são divididos de acordo com seu comprimento de onda.

Logo, os raios UVA são os que possuem de 320 a 400 nanômetros de tamanho. “Vamos pegar o exemplo de uma pessoa que se bronzeia sem proteção. Ao longo dos anos, este tipo de radiação provoca alterações das fibras colágenas e elásticas, favorecendo o envelhecimento precoce”, explica Marcia Maria. A pele mais frágil também fica mais suscetível a queimaduras, acrescenta.

Já os UVC, que tem comprimento de onda de 200 a 280 nanômetros, são germicidas e esterilizantes, sendo quase totalmente filtrados pela camada de ozônio.

Câncer de pele
O terceiro e mais perigoso tipo de radiação filtrado pela camada de ozônio é a UVB, que tem têm entre 280 e 320 nanômetros, e são eritematosas, ou seja, geram uma reação de defesa do organismo que é o nosso famoso bronzeamento. Isso mesmo, aquela cor morena derivada de uma exposição prolongada ao Sol é uma resposta do corpo contra os raios UVB, considerados uma ameaça.

“O bronzeamento é uma defesa da pele para impedir que os malefícios da radiação penetrem. É um tipo de inflamação da pele”, acrescenta a especialista. Nos olhos, este tipo de raio é particularmente danoso, podendo causar até catarata. A geógrafa faz um alerta: cuidado com o óculos escuro. “Ou você usa um bom, ou não usa. O óculos de Sol deixa a pupila dilatada, por isso que enxerga-se melhor. Mas isso a deixa mais suscetível à radiação”, adverte.

Mas o maior risco de uma exposição prolongada aos raios UVB é o câncer de pele. E, ao contrário do que muita gente pensa, este tipo de radiação tem efeito cumulativo, ou seja, a chance de apresentar a doença aumenta conforme a pessoa se expõe mais ao Sol. Estes raios alteram as células dérmicas, propiciando estes tumores malignos.

São três os tipos de câncer de pele: os basocelulares e espinocelulares, mais frequentes, e o melanoma, que representa 5% dos carcinomas, embora seja o mais perigoso e violento. Então atenção a qualquer mancha disforme ou ferimento. Procure logo um médico, porque se a doença for tratada em seus estágios iniciais, a chance de cura aumenta.

Fonte:
http://www.pnud.org.br/meio_ambiente/reportagens/index.php?id01=3426&lay=mam

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