O câncer é, e vem sendo nos últimos anos, um dos maiores desafios da medicina. É uma doença cujo as causas ainda não são inteiramente conhecidas, cujo o tratamento ainda não é 100% eficaz e cujo a reincidência é letal em muitos casos.
Apesar dos desafios, no entanto, a medicina avança. Um novo estudo promissor obteve resultados excelentes na primeira rodada de testes humanos. O pesquisadores desenvolveram uma vacina contra o câncer cerebral.
A vacina em questão mira em células específicas que atacam o avanço do câncer e obteve um resultado de 82% de sucesso nas primeiras testagens em humanos. Os dados coletados são muito otimistas!
A maioria dos pacientes inscritos no estudo desenvolveu uma resposta imunológica a certas proteínas relacionadas ao câncer, com 82% dos que o fizeram observando uma cessação completa do crescimento do tumor nos próximos dois anos.
A vacina foi desenvolvida como um tratamento para gliomas difusos, que se espalham por todo o cérebro e, portanto, são difíceis de remover cirurgicamente, enquanto os tratamentos padrão, como quimioterapia e radioterapia, muitas vezes não produzem efeito.
Felizmente, porém, os gliomas difusos têm um grande ponto fraco, pois suas células tendem a desenvolver uma mutação específica em mais de 70% dos pacientes. Essa mutação afeta uma enzima chamada isocitrato desidrogenase 1 (IDH1), fazendo com que ela mude de estrutura e se transforme em uma nova proteína chamada neo-epítopo. Crucialmente, esse IDH1 mutado só é encontrado em gliomas e não ocorre em tecido saudável, o que significa que o sistema imunológico o reconhece como estranho.
Os autores do estudo, portanto, buscaram desenvolver uma vacina para desencadear a formação de anticorpos que podem procurar e destruir essa proteína mutante.
“Nossa ideia era apoiar o sistema imunológico dos pacientes e usar uma vacina como uma forma direcionada de alertá-lo para o neoepítopo específico do tumor”, explicou o autor do estudo, Michael Platten, em um comunicado. Antes de conduzir o estudo, a equipe já havia conseguido sintetizar a proteína IDH1 mutada, usando-a para vacinar camundongos com sucesso e interromper a progressão de tumores com mutação IDH-1.
Escrevendo na revista Nature, os pesquisadores explicam como administraram sua vacina a 33 pacientes com glioma com mutação IDH1, como parte de um ensaio de Fase I. Todos os participantes receberam a vacina junto com os tratamentos padrão contra o câncer e nenhum apresentou quaisquer efeitos colaterais como resultado de sua participação no estudo.
As respostas imunes induzidas por vacinas foram observadas em 93,3 por cento dos pacientes, que desenvolveram um grande número de células T com receptores que responderam especificamente ao IDH1 mutado. Em muitos participantes, essas células imunológicas invadiram os tumores cerebrais, causando seu inchaço.
Mais importante ainda, 84% dos pacientes sobreviveram por três anos após o tratamento, com 64% não experimentando nenhum crescimento em seus tumores durante este período. Daqueles que desenvolveram uma resposta imunológica, 82% tiveram uma cessação total do crescimento do tumor por dois anos após o tratamento.
Platten insiste que estudos maiores, controlados por placebo, serão necessários antes que quaisquer conclusões sólidas sejam tiradas, embora ele e seus colegas estejam compreensivelmente muito encorajados por suas descobertas. “A segurança e imunogenicidade da vacina foram tão convincentes que continuamos a buscar o conceito da vacina em um estudo de fase I adicional”, explicou ele.
Este segundo estudo verá a vacina IDH1 combinada com a imunoterapia com inibidor de checkpoint, que geralmente estimula o sistema imunológico. De acordo com Platten, isso poderia potencializar a resposta imunológica do corpo à vacina, aumentando assim a capacidade dos glóbulos brancos de destruir gliomas no cérebro.