Quando o assunto são grandes descobertas ou atos incríveis, as pessoas tem a tendência a acreditar que essas coisas se alcançam através da necessidade. É claro que, em alguns casos, é realmente a necessidade que leva as invenções. Por exemplo, inventaram a vacina contra a covid-19 porque havia a necessidade. Se não tivesse havido a necessidade, dificilmente alguém teria pensado em criar a vacina. Certo?
Acontece que esse não é um processo criativo, em sua essência. Ainda usando o exemplo da vacina, trata-se de uma descoberta que seguiu o rigor científico e reutilizou técnicas já conhecidas. Ou seja, nada de criativo na ponta do lápis. Mas você já parou para pensar que nem todas as descobertas do mundo, ou os grandes feitos, são da ordem da necessidade?
Quando falamos de artes, principalmente, precisamos entender que tratam-se de fatos históricos, fenomenais e que, geralmente, dependeram da criatividade dos envolvidos. Agatha Christie, uma das maiores escritoras do mundo, uma vez afirmou “a invenção, na minha opinião, surge diretamente do ócio, possivelmente também da preguiça”.
E essa parece ter sido uma visão compartilhada por outros grandes nomes da história da humanidade. Mozart revelou que compunha suas melodias enquanto comia em um restaurante, ou caminhava para digerir a comida. Ou seja, bem longe do ofício, mas eram assim que as melodias “chegavam” até ele. Henri Poincaré (1854-1912), por sua vez, tinha seus insights enquanto caminhava a beira-mar.
O que se tira a partir desses exemplos é que nem sempre o “foco” e a “concentração” levam a alguma coisa. Mozart foi genial, mas não compôs suas principais obras sentado em uma mesa e tentando espremer suas ideias. Agora, alguns pesquisadores começam a ser capazes de explicar esse fenômeno.
O que acontece, de acordo com a psicologia, é que o cérebro pode trabalhar em “segundo plano”. Isto é, vamos supor que você tenha um trabalho para entregar e já leu o conteúdo que tinha para ler. Ainda que você decida sair para caminhar um pouco, isso não significa que seu cérebro vá parar de pensar no problema. É possível que uma boa ideia surja quando você menos espera, inclusive quando esta procrastinando.
Isso é o que os especialistas chamam de “período de incubação”. É como dizer que as ideias estão lá, mas não necessariamente serão acessadas pelas vias mais tradicionais. O que os pesquisadores tem descoberto é que esse período de incubação parece funcionar mais quando você se distrai.
O que alguns especialistas, como Jihae Shin e Adam Grant, defendem é que, como diz o ditado: nem tanto, nem tão pouco. Isto é, se você precisa realizar uma tarefa, seja ela qual for, precisa encontrar a maneira como seu cérebro trabalha de forma mais produtiva. A procrastinação é muito malvista, mas pode ser produtiva. Deixar aquele ambiente de trabalho por alguns minutos e tentar se dedicar a alguma tarefa pouco exigente, como lavar a louça por exemplo, pode ser muito benéfico.
Acontece que esse tipo de tarefa, que não exige tanto esforço mental, acaba permitindo que seu cérebro trabalhe em segundo plano e divague pelas questões que você precisa solucionar. No fim das contas, fato é que cada pessoa tem seu próprio ritmo, mas algumas práticas malvistas podem, na verdade, serem uma excelente ferramenta.