Cotidiano

Hikikomori: O que leva uma pessoa a desejar viver em completo isolamento?

Ao longo da vida, inevitavelmente enfrentamos períodos de grande cansaço emocional e desmotivação que, somados ao estresse, acabam nos levando ao desejo por isolamento. Muitas vezes, é exatamente isso que fazemos: desinstalamos as redes sociais, desligamos o telefone e passamos alguns dias em casa, tentando recarregar as energias e decidir o que faremos a seguir. Para a maioria das pessoas, essa é só uma fase.

Mesmo pessoas que lidam com a transtornos mentais, como depressão e ansiedade, nem sempre desejam estar isolados. Muitas vezes o isolamento é sintoma da doença, mas uma vez que ela é controlada, o desejo de sair e viver em sociedade retorna. Isto significa dizer que o desejo pelo completo isolamento não é tão natural quanto se imagina, exatamente porque o ser humano é um “animal” social, que gosta e precisa viver em pequenos grupos.

Ainda assim, existem também pessoas que gostam e preferem viver em isolamento. No Japão, existe um termo específico para isso: hikikomori. Esse termo foi criado ainda na década de 90, quando a juventude japonesa enfrentava grandes dificuldades para conseguir e manter um emprego formal. A “Ice Age” afetou uma geração inteira, que hoje tem entre 30 e 40 anos e nunca conseguiu se inserir formalmente no mercado de trabalho.

O resultado desse fenômeno social foram grandes marcas psicológicas nessa geração. Os “hikikomori”, que geralmente se refere a jovens com baixa habilidade social e tendência ao isolamento, se multiplicaram nessa época. O Japão, assim como outras nações asiáticas, possui um censo de orgulho e moralidade muito fortes. Então para esses jovens, que se sentiam fracassados, era mais fácil evitar lidar com as frustrações do dia-a-dia e apenas “se esconder” em seus quartos.

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Junto com o isolamento físico, os hikikomori mostram um extremo distanciamento psicológico do mundo social. Locais onde a interação social ativa é esperada – como uma escola ou trabalho – tornam-se impossíveis para a pessoa. Eles permanecem socialmente desconectados das pessoas ao seu redor, estejam ou não fora de casa. Embora algumas pessoas hikikomori, chamadas soto-komori, possam realizar algumas atividades externas, raramente interagirão com as pessoas. Alguns podem usar a Internet como uma janela para o mundo, mas muitas vezes não interagem com os outros.

Embora este seja um grupo muito específico, ele tem servido como base para pesquisadores que estudam o comportamento humano. Em outras sociedades, por outros motivos, geralmente existem também grupos de pessoas que se sentem inadequadas e evitam os constrangimentos da interação humana se escondendo.

Pesquisas mostram que experiências traumáticas, como episódios de vergonha e derrota, são frequentemente relatadas como gatilhos em várias culturas – como ser reprovado em provas importantes ou não conseguir um emprego reconhecido. Neste caso, os Hikikomori evitam lidar com qualquer possibilidade de derrota ou constrangimento, quando escolhem se “retirar” da vida social.

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Nesse sentido, os Hkikomori acabam buscando algo como a própria “morte social”, embora nunca se tornem capazes de “matar” o mundo a sua volta. Os hikikomori escolhem se tornar espectadores do mundo ao seu redor.  Mais recentemente, com o avanço das pesquisas nesse setor, os especialistas também estão começando a explorar a possível conexão do hikikomori com autismo, depressão, ansiedade social e agorafobia.

Sobre o Autor

Roberta M.

Gosto de escrever sobre diversos assuntos, principalmente curiosidades e tecnologia. Contato: [email protected]