Universo

História das Missões Espaciais

À exceção dos experimentos pioneiros com foguestes, do Dr. Robert H. Goddard , nas décadas de vinte e trinta, o interesse americano pela exploração espacial, antes da II Guerra Mundial, estava restrito aos clubes amadores e à fértil imaginação dos escritores de ficção científica.

Com o advento da guerra, e a demanda militar, tornou-se necessário o desenvolvimento de armas de longo alcance que pudessem ser usadas contra tanques, veículos blindados e submarinos.

A ciência espacial, um termo pouco utilizado na época, estava restrita a estudos do tempo e das camadas superiores da atmosfera terrestre através do uso de balões e de pequenas sondas-foguete.

Embora a idéia de se colocar em órbita satélites artificiais com fins militares e científicos tenha sido sugerida pelas forças armadas e várias agências civis, nunca se passou da fase de conversação.

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Até o final da guerra, o interesse dos Estados Unidos nessa tecnologia, porém, aumentaria dramaticamente.

A causa primordial desse fato foi o impacto causado pelos foguetes alemães V-2 nos círculos militares e científicos americanos.

Os militares viram no longo alcance dos V-2 um novo horizonte na emergente era nuclear, enquanto os cientistas vislumbravam a possibilidade de levá-lo a ser um instrumento que possibilitasse pesquisas conduzidas a grandes altitudes, e como o veículo-protótipo para uma viagem de exploração ao espaço.

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Ávidos pelo dinheiro que possibilitaria a continuidade de suas pesquisas, experts alemães em foguetes foram contratados pelos Estados Unidos.

Além disso, quase cem V-2 foram confiscados após o término do conflito mundial. O exército começou a testar os V-2 em 1946.

Cientistas e técnicos alemães, encabeçados por Wernher von Braun (o “pai” do V-2) trabalharam ao lado dos americanos no sentido de fazer uso dos V-2 para pesquisa.

Pelos próximos cinco anos, equipes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica; das indústrias espaciais e de universidades coletaram informações acerca dos quarenta lançamentos de V-2 realizados no período. Enquanto os testes trouxeram dados pouco úteis em relação a pesquisas em altas altitudes, a ênfase foi dada no longo alcance e poder de fogo dos V-2, facetas úteis quando relacionadas à defesa nacional.

À medida que o programa espacial ia sofisticando-se, tornou-se evidente que era necessário um novo local para a realização dos lançamentos.

A partir de outubro de 1949, o local utilizado passou a ser o Cabo Canaveral. O cabo era ideal para lançamentos.

Não havia perigos para comunidades das redondezas, o clima da região possibilitava operações durante o ano todo e os foguetes eram lançados sobre o mar ao invés de áreas habitadas.

Uma cadeia de ilhas providenciava locais para a construção de zonas de rastreamento que seguiriam o progresso dos foguetes após o lançamento.

Alguns anos mais tarde, esses mesmos critérios foram levados em conta na seleção da área adjacente ao Cabo Canaveral (Ilha de Merrit) para a locação do Kennedy Space Center.

No dia 24 de julho de 1950 uma equipe do exército conduziu o primeiro lançamento a partir do Cabo Canaveral. O foguete, chamado Bumper 8, era um V-2 modificado.

Ele alcançou uma altitude de dezesseis quilômetros. As facilidades de lançamento da época contrastam severamente com as de hoje.

Naquele primeiro lançamento, os técnicos do exército usaram um patíbulo de pintor para trabalhar no foguete antes do lançamento e o centro de controle foi uma espécie de cabine feita com papel de alcatrão, circundada por sacos de areia. Pouco mais tarde o exército decidiu dar continuidade ao seus programas no arsenal Redstone, um antigo centro de desenvolvimento químico em Huntsville, no Alabama.

Os primeiros projetos desenvolvidos aí foram as construções dos mísseis Redstone e Júpiter.

O Redstone era um descendente direto dos V-2 (com alcance de trezentos e trinta e dois quilômetros) enquanto o Júpiter era uma versão mais potente do Redstone (com alcance de dois mil e oitocentos quilômetros).

O exército começou a testar esses mísseis no Cabo Canaveral em agosto de 1953. Cerca de setenta e cinco técnicos e engenheiros dirigiam em comboio do Alabama ao cabo para cada teste.

Lá, eles preparavam e lançavam o foguete e, logo após, retornavam ao Alabama para trabalhar no próximo míssil.

Quando, mais tarde, o exército contratou a Chrysler Corp. para produzir os Redstones e os Júpiteres em Michigan, a equipe do Alabama mudou-se em definitivo para o Cabo Canaveral para conduzir os testes de vôo e dar assistência ao pessoal que manusearia essas armas.

No meio da década de cinquenta, a tecnologia espacial nos Estados Unidos atingiu um estágio onde sérias considerações a respeito do lançamento de satélites artificiais à órbita terrestre estavam sendo feitas.

A oportunidade surgiu em julho de 1955, quando o presidente Dwight D. Eisenhower anunciou que os Estados Unidos colocariam um satélite em órbita como parte de sua contribuição ao Ano Internacional Geofísico (1957-58).

A União Soviética também anunciara sua intenção de orbitar um satélite durante aquele ano, sugerindo até que a sua Lua artificial seria muito maior do que qualquer uma que os E. U. A. viessem a lançar.

A competição entre as forças armadas americanas para saber quem teria a honra de impulsionar o satélite à órbita estava lançada.

O exército sugeriu o uso de um veículo Redstone modificado. A Aeronáutica propôs o seu Atlas, que ainda estava em fase de desenvolvimento, e a Marinha expôs um modelo melhorado de seu foguete de pesquisa a grandes altitudes (Viking), que seria chamado Vanguard.

O projeto Vanguard foi selecionado porque oferecia a possibilidade de desenvolvimento de um foguete cujos sistemas estariam mais voltados para fins civis do que militares.

Além disso, era um projeto científico e, ao contrário das propostas do exército e da aeronáutica, teria pouco impacto sobre o desenvolvimento dos mísseis balísticos de defesa nacional.

A equipe Vanguard chegou ao Cabo Canaveral ao final de 1955 e iniciou as preparações para o lançamento.

Dois Vanguards de teste foram lançados em vôos suborbitários de sucesso em 1956 e 1957. Aí veio o Sputnik. O lançamento, por parte dos russos, do primeiro satélite artificial, em 4 de outubro de 1957, ocasionou profundos efeitos no povo americano e nas agências governamentais envolvidas com o desenvolvimento de satélites.

Mais do que isso, o tamanho e peso do Sputnik (oitenta e três quilos) provaram que os russos tinham desenvolvido foguetes muito mais potentes do que qualquer um do arsenal americano.

E isso tornou-se ainda mais evidente quando, um mês mais tarde, os soviéticos lançaram o Sputnik 2 (de quinhentos e oito quilos) levando à bordo uma cadela chamada Laika.

Mas, embora não houvesse meios para alcançar os russos, os americanos ganhariam algum prestígio se lançassem um satélite.

A pressão sobre o programa Vanguard era grande. Aumentou mais ainda quando o secretário de defesa dos E. U. A. pediu ao exército que se preparasse para um lançamento de satélite para o caso do Vanguard falhar. Após o sucesso de um terceiro vôo de teste, a equipe Vanguard tentou lançar um satélite no dia 6 de dezembro de 1957, pouco mais de dois meses após a Sputnik 1. Poucos segundos após o acionamento dos motores, quando a Vanguard estava a cerca de 1. 2 metros do chão, seu foguete perdeu força, caindo de volta na área de lançamento. A explosão transformou a Vanguard numa bola de fogo que feriu profundamente a confiança americana. Antes que a equipe Vanguard pudesse preparar um segundo lançamento, o exército decolou o seu satélite Explorer 1 e colocou-o em órbita no dia 31 de janeiro de 1958, usando um foguete Júpiter-C modificado como veículo de lançamento, chamado Juno 1. Os Estados Unidos estavam no espaço.

A Explorer 1 tinha em qualidade o que lhe faltava em tamanho. Um experimento de bordo, designado pelo Dr. James Van Allen detectou o cinturão de radiação da Terra, subsequentemente chamado de Cinturão de Radiação Van Allen. O exército tentaria um segundo lançamento em março. No entanto, houve uma falha na ignição do quarto estágio do Juno 1.

No dia 17 de março de 1958, a Vanguard colocou o segundo satélite americano em órbita, uma esfera de 1. 6 quilos que permanecerá acima de nós por dois mil anos. Chamado de Vanguard 1, este minúsculo satélite levou ao espaço as primeiras células solares e é, agora, a mais antiga e menor espaçonave em órbita.

Embora o exército tenha sido o primeiro herói americano da era espacial, o pessoal do projeto Vanguard teve a satisfação de saber que desenvolveu em tempo recorde (apenas dois anos, seis meses e oito dias) um veículo de alta performance, um sistema de tração mundial e uma estação de instrumentação de longo alcance. Mais importante: eles alcançaram seu objetivo, que era colocar um satélite em órbita durante o Ano Internacional Geofísico.

Apesar do sucesso que os Estados Unidos obtiveram com a Explorer e a Vanguard, os Sputniks russos produziram um extenso clamor que fez os E. U. A. embarcar num vasto programa espacial.

No dia 1 de outubro de 1958, surge a NASA. A NASA absorveu grande parte da equipe do projeto Vanguard que, ao lado de outros membros de comunidades científicas e militares, tornou-se a equipe Goddard, responsável pelo lançamento da maioria dos programas de satélite pioneiros dos Estados Unidos, incluindo os primeiros satélites de tempo e de comunicações do mundo. Durante esse período, o Cabo Canaveral tornou-se uma base de lançamentos mais ampla.

O exército continuou testando seus Redstones e Júpiteres e um novo míssil de campo chamado Pershing.

A marinha ocupava-se com o desenvolvimento do Polaris, míssil que podia ser lançado de um submarino.

A aeronáutica desenvolvia o Thor, o Atlas, o Titan e o Minutemen. O Thor seria, mais tarde, o estágio de propulsão do Delta, que foi responsável pela colocação em órbita de mais satélites do que qualquer outro foguete americano. O Atlas e o Titan seriam usados durante os programas tripulados e não tripulados da NASA no futuro. Nesse ínterim, em Huntsville, a equipe de Von Braun desenvolvia um super foguete. A junção de oito motores em um só veículo verificaria se era possível gerar quatro milhões e quinhentos mil Newtons de potência, muito mais do que qualquer foguete conhecido poderia fornecer.

Porém, em agosto de 1969, o Departamento de Defesa (que financiava o projeto) concluiu que não haveria utilidade para um foguete desse porte e transferiu o programa para a NASA. Enquanto a NASA ainda estava em seus estágios de formação, a União Soviética prosseguia com seu próprio programa espacial.

No dia 12 de setembro de 1959, a Luna 2 choca-se com a superfície lunar e, menos de um mês mais tarde, a Luna 3 tira fotos do lado escuro da Lua.

Em agosto de 1960, os soviéticos recuperam uma espaçonave que tinha levado animais à órbita terrestre.

Em fevereiro de 1961 eles lançam uma sonda que obtém medições do meio ambiente de Vênus.

Até que em 12 de abril de 1961, Yuri Gagarin torna-se o primeiro homem a viajar no espaço. A resposta americana veio rápida, menos de um mês depois, com o vôo de Alan Shepard Jr. O vôo de Shepard, os primeiros esforços do país referentes a vôos tripulados, são fatores que diminuem a diferença entre os programas espaciais russo e americano. Mas planos ainda mais ambiciosos estavam sendo traçados pelos Estados Unidos.

Em maio de 1961, o então presidente John Kennedy atiçou a imaginação popular ao anunciar que os E. U. A. mandariam um homem à Lua até o fim da década.

Para o cumprimento desse desafio era imprescindível o apoio do Congresso, já que seriam necessários foguetes muito mais poderosos do que os existentes e o desenvolvimento de uma espaçonave que protegesse o homem do ambiente hostil durante a viagem de oitocentos mil quilômetros até a Lua. O programa seria o Apollo e o foguete responsável pelo seu lançamento seria o Saturn V. Esse foguete de três estágios seria capaz de gerar cinco vezes mais potência do que o Saturn I.

A série Saturn foi o resultado de experiências conduzidas pela equipe de Von Braun, em que se juntava uma série de motores em apenas um foguete para a obtenção de mais força. Enquanto o Saturn V tomava forma nas pranchetas, um local apropriado para sua construção teria de ser providenciado.

Apesar dos seis mil, oitocentos e oitenta e cinco hectares do Cabo Canaveral ter-se mostrado adequado para as missões espaciais anteriores, eram necessárias melhores condições para o enorme foguete lunar.

Um estudo das possíveis localidades que alojariam o Saturn V foi encomendado e foram enumeradas as seguintes: o Havaí, o Texas, a costa da Califórnia, uma ilha próxima à costa da Geórgia, ilhas do Caribe e a ilha Merritt.

O estudo concluiu que a ilha Merritt oferecia as maiores vantagens. Muitas pequenas comunidades encontravam-se a poucas horas de carro uma das outras enquanto cidades maiores como Daytona Beach, Vero Beach e Orlando estavam levemente um pouco mais afastadas.

Além disso, apenas nessa localidade a NASA poderia, ao mesmo tempo, continuar as operações de lançamento no Cabo Canaveral enquanto construía o Spaceport.

A NASA , então, adquiriu a parte norte da ilha. Essa aquisição começou em 1962, quando trinta e três mil e novecentos e cinquenta e dois hectares foram empossados.

Mais vinte e dois mil e seiscentos hectares foram negociados com o estado da Flórida, grande parte dos quais constituídos de terras submersas da Mosquito Lagoon.

Esses investimentos em propriedades atingiram cerca de setenta e um milhões, oitocentos e setenta e dois mil dólares. O desafio havia sido lançado e aceito.

O próximo objetivo seria o projeto, construção e operação de um Spaceport completo.

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