Uma pesquisa bastante polêmica, conduzida pela psiquiatra e pesquisadora britânica Joanna Moncrieff, tem dado o que falar na comunidade médica especializada. Acontece que Moncrieff defende ter encontrado evidências de que a depressão, na verdade, não seja causada pela redução, ou ausência, de serotonina. Na realidade, a pesquisa chega a ir ainda mais além e questiona que, em parte, pelo menos alguns casos de depressão não sejam causados pelo desequilíbrio químico do cérebro.
Não é necessário muito para entender porque essa é uma pesquisa polêmica, afinal de contas, questiona basicamente todo o entendimento sobre depressão defendido e divulgado até hoje. Não à toa, por exemplo, os tratamentos para depressão se baseiam, em grande parte, em medicamentos que atuam diretamente na captação da serotonina. Mas como pode a pesquisa se relacionar com essa realidade?
As principais críticas ao estudo dizem respeito a maneira como ele acaba induzindo a suspensão dos tratamentos contra a depressão, quando questiona sua eficácia. No entanto, é preciso entender o que o estudo realmente tem como proposta. O grupo de pesquisadores associados a University College London, liderados pela doutora Joanna Moncrieff, revisou ao todo 17 estudos sobre a depressão.
O resultado final da pesquisa foi publicado na revista Molecular Psychiatric e aponta, dentre outras coisas, a ausência de uma diferença significativa entre os níveis de serotonina de pessoas diagnosticadas com depressão e pessoas não diagnosticadas com depressão. Além disso, segundo a revisão de artigos, a redução artificial da serotonina, feita de forma induzida e controlada, não se converteu em sintomas de depressão.
“A teoria da depressão da serotonina tem sido uma das teorias biológicas mais influentes e extensivamente pesquisadas sobre as origens da depressão. Nosso estudo mostra que essa visão não é apoiada por evidências científicas. Também põe em causa a base para o uso de antidepressivos“, afirmaram os pesquisadores, em uma declaração ao site The Conversation.
Em entrevista ao The Guardian, Moncreff também fez declarações bastante firmes sobre as crenças sobre a origem da depressão. “Muitas pessoas tomam antidepressivos porque foram levadas a acreditar que a sua depressão tem uma causa bioquímica, mas esta nova pesquisa sugere que essa crença não é baseada em evidências”, declarou, colocando em dúvida a eficácia e o consumo de antidepressivos.
As declarações não foram muito bem recebidas por uma parcela dos profissionais da psiquiatria, que defendem que os antidepressivos são eficientes, ainda que não atuem de forma direta. O psiquiatra Henrique Prata Ribeiro, por exemplo, pontua que nem sempre uma substância vai ser eficiente apenas porque o corpo tem alguma deficiência em relação a ele. “Muitos de nós sabemos que tomar Paracetamol pode ser útil para as dores de cabeça e acho que ninguém acredita que as dores de cabeça são causadas por quantidades insuficientes de Paracetamol no cérebro. A mesma lógica aplica-se à depressão e aos medicamentos usados para tratá-la“, pontua.
Mesmo com o tom polêmico do estudo, as descobertas da pesquisadora não deixam de ser interessantes. O próprio Ribeiro destaca que existe a chance de que as conclusões estejam corretas, o que pode ser confirmado em novos estudos, mas que isso não desqualifica o uso de antidepressivos.