Você já passou pela experiência de acordar, absolutamente do nada, no meio da madrugada e ser invadido por pensamentos intrusivos? Esse tipo de sentimento é muito comum, embora nem sempre as pessoas falem sobre eles. Acordar no meio da madrugada para lembrar de momentos ruins é algo que acontece com muitas pessoas. No entanto, como diz respeito a algo que gera sentimentos negativos, como vergonha e arrependimento, muitas pessoas deixam de falar sobre isso.
Faça um exercício e proponha o assunto, caso você mesmo já tenha passado por isso. Pergunte aos seus amigos quantos já passaram por isso: acordar de madrugada e, aparentemente sem motivo algum, ser invadido por pensamentos “ruins”. Geralmente nesses casos, da mesma forma que perdemos o sonos, de maneira repentina, também o recuperamos.
Se você já se perguntou o que poderia explicar esse tipo de fenômeno, então se acalme porque talvez tenhamos a resposta. É claro que, se tratando do cérebro, as respostas podem não ser tão simples. Neste caso, as informações são resultado de um estudo conduzido pelo pesquisador Greg Murray, extraídas de um artigo publicado no site IFLS.
Um dos principais pontos no estudo apresentado é o estresse. Murray explica que o sono possui um “ciclo” natural em que, primeiro, dormimos profundamente; na segunda parte do sono, que acontece exatamente por volta das 3 horas da madrugada, nosso corpo começa a “se dar conta” de que falta pouco para amanhecer o dia; no terceiro estágio, finalmente o corpo começa a despertar de fato. Este ciclo, é claro, acontece em ciclos saudáveis de sono.
O ponto que nos interessa aqui é exatamente a segunda parte do sono, quando nosso corpo começa a perceber que o dia esta para amanhecer. Nesse momento, geralmente, despertamos várias vezes. Murray explica que esse processo de despertar não esta naturalmente associado à consciência. Isto é, naturalmente você vai acordar várias vezes, mas não necessariamente vai tomar consciência disso. E é nesse ponto que o estresse se torna relevante.
Quando desregulado, o estresse é capaz de nos deixar hipervigilantes e, nesses casos, estamos mais sujeitos a ficarmos conscientes durante os processos de “despertar” da madrugada. Por conta do estresse, quando acordamos, estamos condicionados a pensar em obrigações, falhas, erros… O estresse também afeta os processos de insônia, que muitas pessoas enfrentam. A vigilância é tão grande, que não conseguimos adormecer e, somado a isso, o estresse em saber que “deveríamos” estar dormindo acaba gerando uma grande bola de neve.
Geralmente, todas essas preocupações que nos atingem na madrugada parecem desaparecer pela manhã. No entanto, essa é uma percepção equivocada. As preocupações, os constrangimentos, os embaraços, arrependimentos, os problemas continuam lá; no entanto, ao amanhecer, tudo isso é colocado em perspectiva porque a vida é retomada. De manhã, você tem obrigações que não poderia acelerar na madrugada.
Quando entramos na rotina do dia-a-dia, nosso cérebro ganha recursos para deixar todas as preocupações em segundo plano porque existe algo mais importante: fazer café, sair para o trabalho, arrumar a casa, cuidar de alguém ou de algo, levar as crianças para escola, etc. Na madrugada, por outro lado, essas atividades não estão disponíveis. Temos receio de andar pela casa e acordar os outros, temos receio de levantar e desistir do sono e acabar passando o dia nos sentindo mal, e tudo isso nos leva a ficar deitados, rolando de um lado para o outro e ruminando tudo aquilo que não seremos capazes de resolver.