A famosa “busca por felicidade” não é uma ideia nova, muito pelo contrário. Desde que a sociedade vive um modelo capitalista de organização, esse conceito tem se tornado cada vez mais comum. Afinal de contas, quem não quer ser feliz? Acontece que essa busca não é mais apenas uma questão filosófica, existencial, mas se tornou também uma busca material. No âmbito emocional, muitas vezes substituímos aquilo que nos importa por algo que podemos comprar. Mas essa busca não é capaz de preencher esse vácuo que existe dentro de nós, o qual estamos sempre tentando preencher de alegria.
Nem sempre nos damos conta, mas a busca por felicidade tem a tendência de nos fazer olhar mais para dentro de nós mesmos. O problema nisso é que a felicidade dificilmente esta em nós mesmos, de forma egocêntrica ou individualista. A busca por felicidade nos volta para nós mesmos e, em geral, nos leva a tomar decisões pensando no prazer imediato, o que consequentemente nos afasta de resultados voltados para uma vida mais equilibrada e feliz num conceito amplo.
Na busca por felicidade, frequentemente nos afastamos de “relacionamentos chatos”, ainda que sejam com pessoas significativas e importantes em nossas vidas; frequentemente tomamos decisões que não são benéficas para o “todo”, apenas para nós mesmos; por fim, também nos tornamos mais sujeitos a agir em negligência com o meio ambiente. O resultado disso tudo é um sentimento de solidão que nos atinge logo depois do prazer imediato, obtido através dessas atitudes. Isso tudo se deve ao fato de que a verdadeira “felicidade” esta no princípio básico de todo ser humano: a sociedade, a vida coletiva e a convivência com o mundo ao seu redor.
Questionários e pesquisas que procuram ranquear a felicidade de um grupo de pessoas, geralmente, apontam que são mais felizes aqueles que focam menos em ser felizes. São pessoas geralmente preocupadas em bons relacionamentos interpessoais, com bons e estruturados grupos de apoio; são pessoas que geralmente se orgulham de contribuir com a sociedade de alguma forma e, em geral, pessoas que relatam experimentar bons sentimentos na companhia das pessoas ao seu redor.
Com isso, é possível concluir que focar apenas em nós mesmos, e buscar por felicidade, acaba nos levando a perceber que somos infelizes. Essa percepção alimenta o ciclo porque, quando nos damos conta disso, geralmente não paramos para fazer uma autocritica, mas procuramos nos dedicar ainda mais a nós mesmos; isto é, nos tornamos ainda mais auto-centrados e egoístas nessa busca interminável.
Por outro lado, perceber que somos infelizes pode nos fazer mergulhar em um ciclo de auto-culpa. A sensação de que não sou feliz por algo que EU estou fazendo pode ser devastadora, muitas vezes levando a quadros de depressão. Nossa obsessão com a felicidade gerou uma indústria de pessoas e organizações que prometem maneiras rápidas de nos fazer felizes – mas que dificilmente vão entregar o resultado. Esta é apenas uma das razões pelas quais o foco estreito na “felicidade” pode ser prejudicial.
Essa teoria é bem desenvolvida pelo professor Christian van Nieuwerburgh, que lista ainda uma série de atitudes que podem amenizar essa angústia e nos ajudar a “mirar” no objetivo certo – que não é a busca por felicidade em si própria – para de fato alcançar a tão sonhada felicidade, que passa a ser o resultado de um estilo de vida. Para tanto, procure garantir que será capaz de garantir as suas necessidades básicas, e daqueles que dependem de você; procure ter tempo para fazer atividades que te dão prazer, como exercícios físicos ou leitura, ou etc; procure alimentar e cuidar de boas relações interpessoais, cuide de seus relacionamentos; se conecte com algo que te faz sentir ter um propósito na vida e não abra mão de ser ativo em sua comunidade.
