A vida na infância é um grande divisor da águas para a vida adulta. É durante essa fase que todos nós desenvolvemos áreas fundamentais do cérebro, inclusive emocionais. O problema é que, para uma formação saudável é preciso que existam boas estruturas sociais, além de uma série de outros cuidados. No entanto, grande parte dos seres humanos enfrentam situações de conflito, violência e insegurança ainda na infância.
O resultado disso é catastrófico. Neurologistas, psiquiatras, psicólogos e pediatras já tinham noção da extensão dos danos que uma infância marcada por traumas pode causar. No entanto, os estudos sobre esse tipo de dano continuam sendo feitos. Aos poucos, os especialistas passam a saber com maior detalhes o quanto a vida adulta é afetada pelos traumas da infância.
Pesquisadores por trás de um novo estudo, desenvolvido nos Países Baixos, foram capazes de relacionar traumas da infância com dificuldade de relacionamentos na fase adulta. Isto é, crianças que sofreram algum tipo de trauma na infância, acabam se tornando adultos que sofrem dificuldade para manter relacionamentos saudáveis.
O artigo foi publicado na Child Abuse & Neglect e traz detalhes de como funciona essa associação. O estudo aponta que os problemas de relacionamento partem de quadros de depressão e ansiedade severas, o que geram dificuldades para o desenvolvimento de confiança, parceria, segurança e outros sentimentos que fundamentam relacionamentos.
“Adultos com histórico de maus-tratos na infância são mais propensos a sentir desconfiança, sentir-se distantes dos outros e desenvolver um estilo de apego inseguro”, diz um trecho do artigo. Essa não é a primeira vez que esse link é traçado por estudos, mas essa pesquisa traz um esforço maior em explicar como esses fatores interagem entre si.
Como funcionou o estudo?
Os pesquisadores contaram com mais de 2 mil indivíduos, que se voluntariaram a participar. O grupo tinha idades entre 18 e 65 anos e a observação durou quase 10 anos! Nos anos um, dois, quatro e seis, a saúde mental dos participantes – depressão e ansiedade – foi avaliada. No quarto ano, o trauma infantil foi pesquisado, e no nono ano, a qualidade do relacionamento e o estilo de apego foram avaliados.
O que o estudo revelou foi que maus-tratos na infância estão diretamente relacionados a casos de depressão e ansiedade na vida adulta, bem como na qualidade dos relacionamentos desenvolvidos por estes adultos. A equipe então modelou seis caminhos que poderiam explicar a relação entre as variáveis. Depois de controlar por idade, sexo e nível de educação, foram identificados dois caminhos que “mediam totalmente a relação entre maus-tratos na infância e a qualidade das relações íntimas”. O mais forte deles conecta o trauma da infância ao aumento da gravidade da depressão, apego ansioso e relacionamentos de qualidade inferior.
“Esse caminho indica que alguns indivíduos, que relataram ter sido maltratados durante a infância, podem desenvolver mau humor e outros sintomas depressivos, tornar-se mais dependentes e inseguros, o que pode ser percebido como mais pegajoso e experimentar mais angústia no relacionamento, o que pode posteriormente afetar o relacionamento qualidade ”, diz o artigo.
Esse estudo traz novas informações a um problema que já não é exatamente novidade para especialistas. A maioria dos adultos pode se beneficiar de terapia para tratar de experiências traumáticas da infância e, dessa forma, desenvolver relacionamentos mais saudáveis e positivos na vida adulta.
