O avanço da idade gera uma série de mudanças para qualquer pessoa, independente da presença ou não de doenças. É natural perder um força, agilidade, mobilidade, velocidade, etc. Não é à toa que idosos, de forma geral, parecem todos ter um ritmo próprio. Mas, embora isso seja algo natural, a ciência tem observado que alguns sinais podem sugerir informações relevantes sobre a saúde dos indivíduos.
Pesquisadores da Peninsula Clinical School da Monash University, em Victoria, na Austrália, se debruçaram sobre um aspecto muito específico da velhice: o caminhar. A caminhada de um idoso é marcada por um ritmo próprio, mas que reflete muito do que o corpo esta enfrentando. A passada se torna mais lenta em função da falta de força, do medo de cair; para evitar quedas e acidentes, muitos idosos aprendem a se movimentar de forma mais lenta.
Da passada mais lenta é possível tirar muitas conclusões, mas o que os pesquisadores concluíram não poderia ser imaginado. Segundo as descobertas publicadas no JAMA Network Open, uma revista científica, é possível prever a demência em indivíduos com base na velocidade com a qual andam. O artigo traz o resultado de um estudo que contou com cerca de 17 mil voluntários, um número impressionante.
O que o estudo revela é que a redução de velocidade, quando associada a uma perda de poder de processamento mental, é um indicativo da probabilidade de que o indivíduo desenvolva demência. A pesquisa traz números e aponta que a perda de, pelo menos, 5% de velocidade por ano é um sinal. “Esses resultados destacam a importância da velocidade que andamos na avaliação do risco de demência”, afirma a pesquisadora Taya Collyer.
Para alcançar esses dados, o grupo de pesquisadores analisou dois grupos: o primeiro grupo formado por norte-americanos com mais de 65 anos, o segundo grupo formado por australianos com mais de 70 anos. Cada um dos voluntários foi convidado a fazer testes cognitivos de dois em dois anos. A cada dois anos, os pesquisadores então coletavam dados sobre o desenvolvimento cognitivo dos voluntários, inclusive aquilo que estava sendo perdido.
Para os pesquisadores ficou claro que tinha mais probabilidade de desenvolver demência aqueles pacientes que, além de perder velocidade na caminhada, também demostravam declínio no desenvolvimento cerebral. Esse aspecto envolve questões como velocidade da fala, velocidade de entendimento em conversa, dentre outros. Os pesquisadores chamaram essa combinação de “declínio duplo”.
“Além disso, aqueles com declínio duplo tiveram um risco maior de demência do que aqueles com apenas marcha reduzida ou apenas declínio cognitivo separadamente”, explicou o professor de geriatria e neurologia no Albert Einstein College of Medicine, no Bronx, em Nova York, Joe Verghese. O pesquisador não esteve diretamente associado na pesquisa, mas escreveu o editorial da revista.
A descoberta pode ajudar em muitos aspectos o tratamento do problema, mas Verghese ressalta que “a disfunção da marcha não foi considerada uma característica clínica precoce em pacientes com doença de Alzheimer”. As duas doenças são frequentemente confundidas, ou tratadas como se fosse a mesma condição clínica, mas não é verdade.