Você provavelmente já passou pela experiência de se lembrar de algo, ou alguém, apenas por sentir um cheiro específico, não é mesmo? Muita gente já passou por isso, talvez todo mundo.
Um certo cheiro de comida te leva de volta para a casa da sua avó na infância; ou um certo perfume te faz pensar em alguém… Todas são memórias trazidas de volta através do olfato.
Assim como alguns sons, certos aromas (odores) conseguem remeter o cérebro a memórias muito vívidas. Esse tipo de coisa acontece por um motivo muito específico, e fascinante.
Um novo estudo, publicado no jornal científico Progress in Neurobiology, aponta algumas descobertas que podem ajudar a solucionar esse mistério. As conexões podem ser a chave no entendimento desse fenômeno.
A PESQUISA
Cientistas da Universidade Northwestern observaram as diferentes redes que conectam nossas áreas sensoriais primárias – visão, som, tato e olfato – ao hipocampo, uma estrutura cerebral complexa envolvida nas emoções e na formação da memória.
Eles descobriram que o hipocampo tem uma conexão significativamente mais forte com o sistema sensorial usado para cheirar, o sistema olfativo. Eles argumentam que essa linha direta sobrecarregada entre o sistema olfatório e o hipocampo pode ajudar a explicar por que os cheiros podem provocar uma resposta emocional tão forte nas pessoas.
Para os cientistas, existe uma explicação muito interessante para isso. Essa “linha direta” sofreu algumas alterações ao longo da evolução humana. Essas alterações, no entanto, foram sutis, acreditam os cientistas.
A autora do estudo e professora assistente de neurologia na Escola de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, Christina Zelano, explicou em um comunicado o seguinte: “Durante a evolução, os humanos experimentaram uma profunda expansão do neocórtex que reorganizou o acesso às redes de memória”.
Visão, audição e tato, todos redirecionados no cérebro conforme o neocórtex se expandia, conectando-se com o hipocampo por meio de um intermediário – o córtex de associação – ao invés de diretamente. Nossos dados sugerem que o olfato não passou por esse redirecionamento e, em vez disso, manteve o acesso direto ao hipocampo
Considerando a importância do cheiro em nossas emoções, os pesquisadores também destacam como a perda do olfato pode impactar muito na qualidade de vida. Pensando nisso, não surpreende que uma grande quantidade de pesquisas ligou a perda do olfato à depressão.
DESCOBERTAS E A COVID-19
A pandemia não é mais novidade para ninguém, já faz um ano que vivemos nessas condições. No entanto, as preocupações com a saúde e, principalmente a saúde mental, continuam em alta.
E não é por menos! A covid-19 é uma doença que não nos desafia apenas fisicamente, mas também emocionalmente. As medidas de segurança se consistem, basicamente, em distanciamento e isolamento social.
Trata-se de uma demanda que não é natural ao ser humano, que é naturalmente social. Um dos sintomas da covid, que é justamente a perda do olfato, tem se mostrado ainda mais perigosa do que parece.
Até aparentemente inocente, trata-se de um sintoma que pode oferecer gatilhos emocionais realmente prejudiciais a mente humana. O estudo em questão reforça essa ideia!