O mundo ainda enfrenta uma pandemia causada por uma doenças zoonóticas, o que nos fez entender um pouco mais sobre esse tipo de problema. Essas são doenças típicas de animais, mas que acabam se tornando capazes de atingir seres humanos após múltiplas evoluções do vírus causador. A covid-19 é exatamente uma doença zoonótica porque teve origem em animais, segundo apontam estudos, e então contaminou o ser humano.
Existem muitas doenças zoonóticas já conhecidas pela medicina, mas a covid-19 se tornou um problema de escala global por dois fatores principais: 1) é um vírus de grande potencial de contágio, o que a tornou capaz de se espalhar muito rapidamente; 2) era uma doença completamente desconhecida que levou pelo menos um ano para ter os primeiros tratamentos eficazes, o que inclui a imunização, o tratamento mais eficaz. Embora em questões proporcionais a covid-19 seja uma doença com uma mortalidade moderada para baixa, porque a doença contaminou um número absurdo de pessoas mundo a fora, o número de mortes também se tornou estratosférico. No mundo, para se ter ideia, 5.96 milhões de pessoas morreram por covid-19; só no Brasil foram 650 mil, o terceiro país com mais mortes.
Não é à toa que o mundo, tanto as comunidades científicas quanto a sociedade comum, se tornou mais alerta a essa ameaça. É exatamente por isso que cientistas de todo o mundo agora olham com mais atenção para esse problema. Um novo estudo, publicado no Cell Press enquanto aguarda revisão por pares, sugere uma nova ameaça. Trata-se de um novo tipo de vírus ebola, batizado de Bombali, que foi encontrado em morcegos.
Ao todo, hoje existem seis tipos de vírus ebola conhecidos pela ciência. A família é grande, exatamente como no caso do coronavírus. É provável que você esteja pensando no surto de ebola que assolou alguns países da Africa Central e Oriental. Aquele é o chamado vírus ebola, que possui uma grande taxa de mortalidade e atualmente possui status de endémico em vários países africanos. Você deve se lembrar de 2014, quando milhares de pessoas morreram em decorrência do vírus.
O primeiro passo dos pesquisadores, que encontraram o vírus Bombali, foi procurar ter certeza que o vírus era mesmo capaz de provocar uma doença zoonótica. Para isso, isolaram o agente e o expuseram a glóbulos brancos humanos. Como o Ebola, o vírus Bombali “infectou células humanas e macrófagos humanos primários”, relatam os autores, e foi capaz de “entrar eficientemente nas células” usando o mesmo mecanismo que seu primo viral. Embora ambas as doenças tenham demonstrado infectar um número semelhante de macrófagos, os pesquisadores descobriram que alteraram o RNA das células de maneiras diferentes para alcançar a replicação. Ao contrário do ebola, o Bombali não induziu uma resposta antiviral do organismo.
Apesar disso, os pesquisadores puderam concluir que algumas das técnicas usadas contra o ebola podem ser eficientes contra o Bombali. Neste caso, o medicamento remdesivir e algumas terapias de anticorpos monoclonais. A torcida é para que nunca tenhamos que fazer uso desses tratamentos, mas atualmente esse tipo de pesquisa preventiva tem se tornado cada vez mais importante.